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30 setembro 2012

Resenha (CD's): Ryan Adams - "Gold" (2001)


Artista: Ryan Adams
Álbum: Gold
Ano: 2001
Gravadora: Lost Highway / Universal Music

Mês passado foi relembrado os onze anos dos terríveis ataques terroristas ocorridos nos EUA em 11 de setembro de 2001. Um deles, o do Word Trade Center, foi o visualmente mais marcante, pois o mundo todo acompanhou as duas torres gêmeas (símbolos do orgulho americano e centro de boa parte da economia nacional) virarem cinzas, deixando os novaiorquinos e todo o mundo estarrecidos com tamanha atrocidade.

Foi em meio a esse caos que, em 25 de setembro de 2001, Ryan Adams lança seu clássico, Gold, com uma capa que realmente demostra como estava os EUA naquele período: de cabeça pra baixo!

Porém, Ryan Adams (que reza a lenda é capaz de compor até nove músicas por dia) é alguém que, como ninguém, consegue transpor toda sua dor em canções excelentes!

Depois de destruir o coração de meio mundo com seu primeiro álbum (Heartbreaker - 2000), ele entra no panteão dos queridinhos da crítica especializada com esse segundo disco que o faz estar na lista dos grandes do country alternativo junto com Wilco, Gilliam Welch e Lucinda Williams. E Gold é uma excelente amostra de como Ryan é versátil em passear por vários gêneros, sempre mantendo ao fundo sua maior referência, o folk.

O disco começa com a alegre e amarga "New York, New York", que acabou tornando-se um verdadeiro hino na volta da alta-estima da cidade após os ataques do 11 de setembro. Hell, I still love you, New York. O clipe dessa canção foi gravada a exatos três dias antes dos ataques.

Com "Firecracker" a gaita come solta! Com direito a back vocal de Adam Duritz, vocalista do Couting Crows, que aliás participa de várias faixas.

Há momentos tristes e belos, como a doce homenagem de Ryan a linda poetiza suicida "SYLVIA PLATH", escrito desta forma mesmo, em letras garrafais. Enfim, ao que parece, depois da dor de algumas decepções amorosas, neste álbum ele se entrega em muita de suas letras naquela melancolia da fase de se reerguer, de cantar para si mesmo canções que abordam o sofrimento sem aquela auto-piedade de Heartbreaker. O que combinou perfeitamente ao espírito melancólico, porém ainda com esperanças, da nação americana àquela época.

Enfim, começando em Nova York e terminando em Hollywood, Ryan passeia por muitas estradas. Por folks arrazadores ("Somehow, Someday", "Gonna make you love me"), blues corta-pulso de primeira ("The rascue blues", "Touch, Fell & Lose"), rocks raivosos ("Enemy Fire", "Tina Toledo's Street Walkin' Blues") e baladas de fazer chorar o mais duro dos corações ("When the Stars Go Blue", "Nobody Girl", "Wild Flowers"), terminando sua jornada na solitária Hollywood de "Goodnight, Hollywood Blvd".

Poucos artistas como Ryan conseguem temperar suas músicas com tristeza na medida certa. A ponto de tornar o sofrimento na mais sensível doçura. Gosto muito de sua musicalidade, de suas construções de melodias, de sua voz rouca que consegue se adequar nas mais variadas formas.

 "Com Gold, eu estava tentando provar algo para mim mesmo. Queria inventar um clássico moderno." - Ryan Adams

Depois de Gold, fértil como só ele, o queridinho do alt-country lançou muitos álbuns, numa linha tão irregular quanto Neil Young, levando a crítica e os fãs por vezes do céu ao inferno. E pretendo futuramente poder ter o privilégio de conversar com vocês sobre todos eles!

Assim como Nova York, Ryan Adams conseguiu se reerguer depois de um longo período de drogas, decepções amorosas e grandes perdas (como a morte do baixista do The Cardinals, sua tradicional banda de apoio). Hoje Ryan é um homem casado que largou qualquer tipo de substâncias lícitas e ilícitas. Está com mais maturidade, sobriedade e serenidade e, da mesma forma, criando músicas que são verdadeiros feedback's de seu interior.

Aqui no Brasil ele ainda é um ilustre desconhecido. Eu mesmo o conheci através do Gold, e passei a aprofundar meus conhecimentos sobre ele através da minha ex-namorada Nathalia, que por coincidência é uma das maiores autoridades no quesito Ryan Adams deste país.

Então, para os marinheiros de primeira viagem na musicalidade do Ryan, eu realmente indico este disco que, apesar de longo, de forma alguma enjoa. Você escuta ele de cabo à rabo, e é tão bom que parece que o disco tem 15 minutos! Uma verdadeira viagem sonora pelas longas estradas, bares e corações partidos dos EUA. Basicamente um clássico moderno!

A PREDILETA:

Reza a lenda que certa vez Ryan entrou numa loja de eletrodomésticos para comprar uma TV, e quando estava no caixa começou a rolar em inúmeras telas a imagem do show do The Corrs, que junto com Bono Vox cantavam "When the Stars Go Blue", no que ele olhou pro cara do caixa e disse:

- Ei, tá vendo essa música? Ela é minha!

No que o caixa indiferente respondeu:

- Whatever!

Sacanagem né? Pois é, vou confessar que meu pecado foi adquirir o Gold por conta desta canção. Gosto muito dela! Escutei ela várias vezes nas minhas madrugadas de plena insônia. Ela foi trilha sonora de muitas das vezes em que vi o dia amanhecendo. Botava essa canção pra tocar na vinda da alvorada, e observava a claridade chegando e as estrelas sendo ofuscadas com a luz do sol. 

Há muita beleza na tristeza e melancolia. Ela te faz repensar sobre a vida, seus valores, seu olhar diante do mundo. Não é a toa que a própria Bíblia reconhece esse estranho aspecto:

"É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer isso. A tristeza é melhor do que o riso; pois a tristeza faz o rosto ficar abatido, mas torna o coração compreensivo. Quem só pensa em se divertir é tolo; quem é sábio pensa também na morte."
Eclesiastes 7. 2-4

E é exatamente nesta perspectiva da morte que o homem se torna eterno através da arte. Mas isso já é uma outra conversa...

Confira no vídeo abaixo a música "When The Stars Go Blue":

22 setembro 2012

Resenha (Filmes): Intocáveis (França - 2011)


Filme: Intocáveis (França - 2011)
Direção: Olivier Nakache / Eric Toledano
Estúdio: Gaumont Film Company

Cara, cada dia que passa dois países tem-me conquistado com suas produções cinematográficas. O primeiro é a Argentina, e o segundo, da mesma forma, é a França! Os dois países são feras principalmente no quesito roteiro. E neste filme Intocáveis, você se delicia com cada construção de diálogo!

Principalmente por se tratar de um tema tão delicado, como é a situação de um tetraplégico preso em seu próprio corpo, você deve imaginar o que é a dificuldade de tecer um roteiro que aborda com humor essa situação sem a mínima aproximação da auto-comiseração, e também sem um momento de mau gosto.

Então, todas as piadas, até aquelas de humor negro são temperadas na medida certa.

O enredo é bem simples. Um milionário tetraplégico está a procura de um assistente de enfermagem de tempo integral para cuidar dele. Entre os vários entrevistados estão aquelas figuras sem sal, os politicamente corretos, cheio de discursos humanitários etc... Enfim, um dos entrevistados só foi lá para ter um recibo assinado para continuar recebendo o seguro desemprego (na França, se você está desempregado e levar três declarações atualizadas de que você participou de entrevista de emprego, recebe esse abono do Estado). Por algum motivo, o milionário tetraplégico resolve contratar esse jovem negro da periferia da França. E à partir daí a relação dos dois começa.

Enfim, até aqui nenhuma informação que você não possa encontrar facilmente no Google.

Me sinto até mal por isso! Pois um filme bárbaro destes deveria tirar de mim um insight super inspirado. Sobre vida, teologia, filosofia, etc. Mas não vou fazer isso! Basta para mim dizer que o filme paga cada centavo do ingresso! É massa! Uma verdadeira inspiração e uma aula de roteiro!

Há, acabei de lembrar de uma coisa. Esse filme, definitivamente, lavou minha alma na angústia que senti com o filme Mar a Dentro (Espanha - 2004). Apesar não não gostar do clichê "por mais fodido que você esteja, tenha esperança!", acho que muita gente que está nestas condições sinceramente não querem morrer, desejam apenas uma forma de melhor viver a vida.

No filme Intocáveis, o tetraplégico em questão é milionário. Por pior que seja, ele pode tranquilamente bancar seus cuidados. Agora imagina esta mesma situação com pessoas humildes, dependente do sistema público de saúde! Será que eu nestas condições teria força interior para ter esperança? Sentiria vontade de me adaptar e conseguir superar minhas dificuldades? É uma previsão completamente imprevisível.

Mar a Dentro deixou-me bastante sombrio com esta perspectiva. Intocáveis, por sua vez, colocou mais luz nesta questão, mas sempre com o pé no chão de saber que se trata de um endinheirado nestas condições (que claro, deve sofrer da mesma forma, não julgo isso).

Mas tirando estas questões, o filme trata de amizade. Amizade de pessoas opostas, cada um com seus próprios infernos pessoais. Ambos não achando muitos caminhos para suas próprias vidas. Um tendo de se adaptar ao outro. Em algum outro blog que eu li sobre esse filme foi até usado o termo "opostamente parecidos". Lembrei muito do filme Perfume de Mulher (1992).

O filme tornou-se uma febre na França, chegando a ser o segundo filme de maior bilheteria da história do país. E pelo visto, tudo tende a levar a crer que essa febre se espalhará pelo mundo. Aqui em Fortaleza por exemplo, a sala de cinema em que eu assisti estava lotada, e o povo aplaudiu de pé ao término.

Um filme obrigatório nesta temporada!

Antes de terminar, gostaria de compartilhar com vocês um excelente comentário escrito por Antônio Carlos Ribeiro na revista eletrônica Novos Diálogos Editora sobre esse filme:

Link: http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=913

Assista no vídeo abaixo o trailer do filme Intocáveis:

19 setembro 2012

Teatro II - A independência do Brasil ou Uma família Real muito louca!

Antes, uma breve introdução...

Pois é pessoal. Hoje, 19 de setembro, é celebrado o dia do Educador Social. E fico muito feliz, de verdade, pelo fato de (mesmo com toda dificuldade que esta nobre profissão me dá) no meu contexto profissional, eu ter o privilégio de exercitar este papel de educador em sua forma mais literal. O educador no contexto da semiliberdade Mártir Francisca desempenha papel fundamental, junto à pedagogia e serviço social, na formação humana dos adolescentes que lá se encontram. Cada educador é desafiado a exercitar seus dons pessoais em favor de melhor servir os sócio-educandos. E assim, nesta integração (sinergia) entre os setores técnicos e dos próprios educadores, construímos uma infinidade de possibilidade de ações. Onde não só os adolescentes ganham; nós também como profissionais saímos satisfeitos e orgulhosos por ser agentes de transformação para a vida deles. A qualidade no trabalho melhora qualitativamente!

Hoje vou mostrar para vocês uma peça teatral que escrevi para as comemorações do dia da independência. Passamos a semana trabalhando nos adolescentes (através de palestras e oficinas) o porquê da independência do nosso país. Promovemos uma apresentação de uma banda marcial. Uma palestra sobre altruísmo ministrada por dois bombeiros civis. Uma mini-copa de travinha. E na festa final, chamamos um professor de história do Brasil (Natan, meu eterno obrigado!) para dar um aulão para os adolescentes e seus familiares sobre o dia da independência, e logo após a palestra apresentamos uma peça de teatro (com a participação de educadores, sócio-educandos e corpo técnico) satirizando (com muito humor, obviamente) a confusão que foi a vinda da família real para o Brasil, bem como os bastidores pitorescos que antecederam o grito da independência.

E é esta peça de teatro que eu tenho o enorme prazer em compartilhar com vocês. 

p.s. - não sejam muito exigentes, é apenas a segunda peça que eu escrevo. Então é tudo muito, mas muuuito amador...


* * * 

A independência do Brasil ou Uma família Real muito louca!

por George Facundo

Personagens:

Dom João VI - Fernando (Professor de serigrafia)
Carlota Joaquina - Tereza (Educadora Social) 
Dom Pedro I - Eliano (Coordenador de disciplina)
Serviçal e Narrador – George (Educador Social)
Assistente do Serviçal – Adriano (Sócio-educando)
Napoleão - Romeu (Educador Social)
Soldado de Napoleão - Alexandre (Educador Social)
Homem das mensagens - Jack (Professor de artes) 

O serviçal do rei e seu assistente entram pelo meio do público, chega á frente, abre um pergaminho e lê solenemente:   

Narrador:

Esta história começou
Em 1908
O Rei de Portugal estava aperreado
E com o coração afoito

E o que preocupava o rei
Era algo para ter consideração
Pois Portugal estava ameaçada
Pela invasão das tropas de Napoleão

Napoleão era da França
E este país dominava tudo
Estavam invadindo toda a Europa
Queriam invadir o mundo

O Rei de Portugal
Do alvo de Napoleão não estava salvo
A Europa já estava toda dominada
E Portugal era o próximo alvo

Cheio de solenidade, o serviçal anuncia a entrada de Dom João VI...

Serviçal - Ilustres patrícios portugueses, quero que vocês tenham reverência neste momento e façam silencio, porquê está entrando ele, o ilustre, magnânimo, que podia ser o pior, mas é o melhor, o grande rei de Portugal, Dom João VI!

Neste momento, o assistente do serviçal ergue a corneta e faz um som desagradável, onde tanto o rei como o serviçal fazem cara feia tampando os ouvidos...

Dom João VI - Céus! Céus! Raios que me partam em dois! Estou lascado! Napoleão está invadindo meu país! Vou ser preso, morto, decapitado, aparecer no Barra Pesada e tudo! E agora, que farei?

Então, dos bastidores escuta-se a voz da Carlota Joaquina dizendo...

Carlota Joaquina - Amorziiiinhôôôô! Meu rei, meu príncipe! Aqui é sua amada, a mais bela de todas, a sua Carlota Joaquina! Cadê você meu bebezão?

Serviçal - Ilustres patrícios, muito mais reverência nesta hora, pois neste momento está entrando na sala real a linda (o serviçal tenta conter um riso...), maravilhosa, estupenda rainha Carlota Joaquina!

O assistente do serviçal novamente toca sua irritante corneta...

Dom João VI -  Ai não! Nãããoooo! Como se já não bastasse tudo isso ainda vem essa mocréia da Carlota! Onde eu tava com a cabeça quando casei com essa doida meu Deus!? Devia tá morto de bêbo!

A Carlota entra em cena e diz...

Carlota Joaquina - Taí você meu bebezão! Coisa mais linda do mundo! Tava procurando você amorzinho! Cadê, aquela nossa viagem que tu tanto me prometeu? Nossa segunda lua-de-mel? Promessa é dívida viiiiiiu!

Dom João VI - Raios que o parta mulher! Tu acabaste de me dar uma ótima ideia! Vamos fazer uma viagenzinha ao Brasil!

Carlota Joaquina - Brasiiiiiiil???????? Não acreditoooooooo! Finalmente vou poder inaugurar o meu biquini! Ai que chiiiique bem! Nosso filho vai adorar! Pediiiiim, Pediiiinhôôôôôô!

Dos bastidores ouve-se a voz de Dom Pedro I...

Dom Pedro I - Tô indo! Vai dar certo, calma aí!

Serviçal - Ilustres patrícios portugueses, tenho o enorme e imensurável orgulho de lhes anunciar ele, que é um caminhão carregado de bacalhau, uma verdadeira autarquia, o ilustre príncipe Dom Pedro I!

Novamente ouve-se o som da corneta do assistente...     

Dom Pedro I - Fala corôa, tô aqui, quié?

Carlota Joaquina - Fale direito comigo que eu sou sua mãe, num sou sua pariceira não viu!

Dom Pedro I - Deixe de cena Ayrton Senna! Diz o que a senhora quer!?

Dom João VI - Meu filhote, eu e sua mãe resolvemos passar uma temporada lá no Brasil. Vá lá arrtumar as suas coisas que a gente vai agora, já! A topique marítima vai passar jajá!

Dom Pedro I - Owwwwww beleza! Caramba, vai "ser sal" lá no Brasil, xei de cumádi rochêda ó! Vai ser uma maravilha! Vamo nessa!

Neste exato momento, um cara dos correios chega e anuncia correspondência, jogando um papel amassado na cabeça do serviçal do rei. O mesmo abre a carta e lê...

“Família Real Portuguesa, aqui é Napoleão Bonaparte, imperador da França, estou mandando esta singela cartinha para dizer:
Uh! Hu! Hu!
Au! Au! Au!
Vamos invadir
E destruir Portugal
ass: Napoleão Bonaparte, imperador da França, o melhor dos melhores!”

Após a leitura da carta a família real se desespera...

Dom Pedro I - A casa caiu papai, e agora?

Dom João VI - Vamos capar o gato negrada, vamos pro Brasil que é o melhor que a gente faz! Vou deixar um recado pro napoleão aqui...

O mesmo pega um pincel e escreve numa lousa ou cartolina exposta para todos verem... 

Napoleão, Já capamos o gato! Boiô playboy! Fui pegar um bronze no Brasil!
ass. Dom João VI, rei de Portugal e família.

Quando a família real sai de cena, entra Napoleão com um soltado, cada um montado em seus respectivos cavalos (no caso, vassouras)...

Napoleão - Perdeu, perdeu, perdeu! Pô, ué, cadê o povo!

Soldado - Olha aí chefe, deixaram um recado na lousa!

Napoleão - Óia, se faz de doido o Dom João VI!

Soldado e Napoleão - Acoooocha pra França!!!!!

Os dois saem de cena... Em seguida a família real retorna, agora no Brasil... Sendo novamente anunciada pelo serviçal devidamente acompanhado de seu assistente...

Serviçal - Povo brasileiro, tenho a enorme alegria em anunciar-vos a iluminada presença da família real Portuguesa!

O assistente novamente toca sua corneta irritante... 

Dom João VI - Eita, aqui faz um calor dos diábos!

Dom Pedro I - É mesmo viu, parece que a gente tá na Caucaia, mó calor. Por isso o povo anda tudo pelado aqui no Brasil...

Carlota Joaquina - Ai, ai, ai... Se lá em Portugal que era frio eu já sentia um calor vir de dentro, imagina aqui no Brasil.... Eita!!!

Narrador:

Se sentindo condenados
Sem direito a fiança
A família finalmente chega ao Brasil
Acochando para a França

Enquanto isso
Lá em Portugal, do outro lado do mar
O povo aproveitou a ausência da família
E começaram a avacalhar

Dom João VI
Viu que ia se prejudicar
E começou logo a dizer pra família
Que para Portugal precisava voltar

Neste momento, novamente o mensageiro chega, jogando uma bola de papel na cabeça do serviçal, o mesmo abre o papel e lê...

“Ó excelente Dom João VI
A coisa aqui tá feia, virou a Babilônia, o povo tá se revoltando, é melhor o Senhor voltar para cá imediatamente, porque senão outro cara vem aqui e vai tomar teu lugar... Aí já viu né? Acabou as tuas festinhas com montes de mulheres na casa do Cristiano Ronaldo!”

Dom João VI - Tá vendo! Passo só alguns meses fora e a coisa em Portugal já avacalha! Temos que voltar!

Carlota joaquina - Temos que voltar uma ova meu filho... Onde é que eu vou me bronzear lá ein?

Dom Pedro I - Pô papai... Num quero voltar não, aqui no Brasil é massa! O povo é gente boa e todo mundo quer que eu fique!

Dom João VI - Deixe de ser teimoso moleque, tu vai comigo e acabou!

Dom Pedro I - Nada disso, eu vou ficar e pronto! Vou para meu povo, meu povo brasileiro, e vou fazer um pronunciamento!

Serviçal - Nobres brasileiros, muita atenção neste momento para o ilustre pronunciamento do príncipe Dom Pedro I!

O assistente toca a corneta...

Dom Pedro I vai para o meio do público, sobe em uma cadeira, ergue sua espada (uma régua) e diz... 

Dom Pedro I - Pessoal, num tô mais nem vendo não! O nêgo agora tá é cego! Se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, eu fico!!!!!!!!!!

Carlota Joaquina - E eu tambééééééémmmmmmmmmmmm!

Dom João VI - Pois muito bem, se é isso que vocês querem tô nem aí, vou-me embora, mas lembrem-se, quem manda no Brasil sou eu, o Rei de Portugal viu!

Narrador:

Com Dom Pedro I no Brasil
O país criou maturidade
Já estava bem independente
Próspero, e caminhando para a liberdade

O rei de Portugal
Se sentindo ameaçado
Mandou os correios
A Dom Pedro I entregar um recado

Entra o mensageiro e novamente uma bolinha de papel é jogada na cabeça do serviçal, que a lê...

Excelentíssimos principe Dom Pedro I e Rainha Carlota Joaquina,
Vocês tão se fazendo de doido é? Que negócio é esse de querer ser independente? Eu que mando nessa porqueira aí viu! E esse país só serve para uma coisa, para mandar para nós, portugueses: ouro, prata, madeira de qualidade, animais e mulheres gostosas... Se vocês pensam que vou perder essa boquinha vocês tão muuuuito enganados! Tá ouvindo seu mal criado maluvido, e tu, sua rainha jararaca! É melhor vocês acocharem pra mim pois senão vou aí acabar com a raça de vocês!
Viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiu!
Ass: papai

Dom Pedro I - Pois se ele pensa que vai mandar aqui tá redondamente enganado! Vou ali fazer outro pronunciamento mamãe, cadê meu cavalo? Pronto, vamos ali!

Serviçal - Brasileiros e brasileiras, com vocês ele, o grande, ilustre e nobre Dom Pedro I que neste exato momento fará um pronunciamento!
O assistente toca sua corneta, e Dom Pedro I vai novamente para o meio do público montado em seu cavalo (uma vassoura) com a espada (régua) na mão e proclama...

Dom Pedro I - Tá é brabo eu acochar pro meu pai! Esse país é lindo, rico, cheio de gente! Somos um povo guerreiro! Não vamos mais ser escravos de Portugal, está na hora de mudar! Independência ou moooooorte!!!!!!!!!!!

Narrador:

E desde esse dia
Com Dom Pedro I discursando tão imponente
O Brasil ficou livre de Portugal
Se tornando independente

E essa é a história da independência
Que todo ano, por quem deste país é membro
Comemoramos essa vitória
No dia 7 de setembro


FIM

18 setembro 2012

Resenha (CD's): Los Hermanos - "4" (2005)


Artista: Los Hermanos
Álbum: 4
Ano: 2005
Gravadora: Sony/BMG

"Um disco com menos faixas mas, possivelmente, o mais amplo e abrangente de todos."
Bruno Medina (2005)


Acho feliz esta afirmação do Medina, uma vez que ele de fato foi preciso na avaliação neste disco minimalisticamente intitulado 4.

Muitos vão achar exagero, ou falácia barata de minha parte, mas certamente Los Hermanos é a Legião Urbana dos anos 2000'. Principalmente por uma característica, e essa é relacionada mais a quem curte a banda do que propriamente a musicalidade: Los Hermanos (assim como a Legião em sua época) não tem fans, e sim seguidores!

Certamente essa geração universitária minimamente instruída e apreciadora de boa música certamente vai ter como maior referência a sua estada na graduação os Hermanos. Não à toa, principalmente nos departamentos de humanas, do lançamento do ventura pra cá virou super comum aquela figurinha barbuda e jeans surrado, com uma bolsa a tiracolo, camisa de algodão quadriculada, ostentando uma barba de meses (e de preferência, usando um óculos de grau da Chilli Beans).

Enfim, 4 é um disco que trouxe em si a responsabilidade de ser o sucessor do bem sucedido Ventura (2003). Mas que nada, apesar disso, eles foram pro tradicional exílio num sítio e deram forma as canções deste maduro álbum. E diga-se de passagem, até os fãs, ops, quer dizer, seguidores dos caras estranharam. Muitos só foram digerir o disco depois da quinta audição. Pelo número enorme de referências, e por ser sensivelmente diferente dos outros trabalhos, é até difícil demarcar um ponto comum neste disco. Complexo, denso, existencialista e introspectivo podem ser palavras que pode dar um certo norte. Mas nada ainda muito óbvio.

Neste os metais ficaram de fora, assim como os carnavais e os sambas. Este disco está mais MPB, claro que com uma boa pitada de Radiohead ali e saudosismo acolá. O clima começa soturno, como uma tardinha de frente ao mar ao som de "Dois barcos" e da bossa "Fez-se Mar" (com Fernando Catatau no solo de guitarra), seguindo pelo anoitecer e o mergulho na tristeza e confusão de "Primeiro Andar" e "Os pássaros".  O clima é quebrado pela tropical "Paquetá", pela singela "Morena", o segundo single do álbum depois da ótima "O vento".

"Horizonte Distante" é a mais, digamos, pesada do álbum. Um grito com atmosferas épica na letra. Uma música que, ao vivo, deve ser daquelas onde todo mundo fecha o olho e canta em completo sinal de fanatismo hermaníaco! Expressão exagerada, réu confesso!

"Condicional" é a segunda mais pesada e que poderia ter fechado o disco com chave de ouro. Como um álbum que ia subindo de tom de forma progressiva, com a introspecção melancólica inicial, subindo o clima no meio e com um fim explosivo! Mas não... A força se esvai e aqui entra Marcelo Camelo tecendo as últimas três músicas do disco. "Sapato Novo" e "Pois é" é de um saudosismo de partir os corações mais sensíveis. E quando você está pedindo arrego, vem a última "É de lágrima" e você vai a nocaute com um final soberbo!

Apesar do estranhamento dos fãs e da crítica, o álbum de início vendeu 50 mil cópias. Produzido pelo competente produtor Kassin, que de fato conseguiu tirar dos Hermanos sua essência criativa! E sempre deixa tudo bem caprichado e enxuto!

Eu, como bom apreciador da melancolia, isso acompanhado com uma boa dose de contemplação, tenho neste disco meu predileto do Los Hermanos. É um disco para se degustar de preferência sozinho, à noite deitado no sofá sem muita luz em volta. É um disco que te faz pensar na vida, te faz olhar pra dentro de si. Enfim, é Los Hermanos em sua melhor forma. Ainda mantendo o perfeito equilíbrio entre as composições da dupla Camelo/Amarante que, na soma da obra, conseguem produzir canções que se completam, sem rixas e rivalidades. São músicos que, apesar do hiato enorme desde a gravação deste álbum em 2005, até hoje, mesmo sem estar no Los Hermanos, porém com seus trabalhos paralelos, vêm mostrando a quê vieram.

Enfim, Medina foi totalmente feliz na frase do início: amplo e abrangente. Com referências que podem vir de qualquer parte. E assim, está aí registrado um disco que, com certeza, é um marco na história da música nacional. Lírico, belo e saudoso. Solidão, amor, existência e loucura: temas universais e atemporais! Um disco puramente humano, que certamente tornou o álbum 4 eterno, e irá ainda emocionar muitas gerações!

A PREDILETA:

Quando escutei o Ventura pela primeira vez, fui marcado pela última canção chamada "De onde vem a calma" do Camelo. Senti calafrios de tanto sentimento misturado em minha cabeça pela força que era essa canção que fechava o álbum. Acho que foi um dos melhores encerramentos de álbum (se é que existe essa categoria...) que eu já ouvi em um disco de rock. Porém, quando ouvi pela primeira vez o disco 4, acompanhando faixa a faixa, e escutei o final com "É de lágrima", por Deus, que apoteose sonora! Pesquisando sobre este disco em outros blogs, li até um mais exagerado, comparando esse final com a canção "Eclipse" do Dark side of the moon do Pink Floyd.

Exageros à parte, de fato, melodicamente essa música é magistral. E ela consegue fundir essa bipolaridade sentimental, de altos e baixos, presente em todo o álbum. Apesar de ir sacando qual é a do disco à medida que fui avançando nas faixas, nesta certamente Marcelo Camelo me pegou de surpresa. E que grata surpresa! Enfim, difícil realmente escolher uma música predileta neste álbum; por mim colocaria ele todo em formato full pra se ouvir de cabo à rabo, mas já que tenho que escolher, escolho essa então!

Confira no vídeo abaixo "É de lágrima" do Los Hermanos 4:

15 setembro 2012

Resenha (Curta-metragem): Trapiá - Uma comunidade (Brasil - 2012)

Curta-metragem: Trapiá - Uma Comunidade (Brasil - 2012)
Diretor: Marcus Chastinet
Estúdio/Produtora: UFC (Universidade Federal do Ceará) / ICA - UFC (Istituto de Cultura e Arte) / Curso de Cinema e Audiovisual - UFC

Sítio Trapiá é uma região rural pertencente ao município de Assú no Rio Grande do Norte, à 45 Km de Mossoró. Um dos milhares de lugares perdidos no meio do nada. Região que durante muitos anos e várias gerações foi marcada pela característica comum à boa parte das comunidades rurais pobres do nordeste: pobreza, falta de assistência do estado, alta taxa de mortalidade infantil, e da mesma forma um elevado numero de pessoas analfabetas.

Neste lugar em particular, esse quadro mudou sensivelmente depois que um casal de missionários ingleses (Mike e Davina Wilson) se mudaram para essa região, e a partir daí dedicaram mais de 20 anos de suas vidas, integralmente, no desenvolvimento humano e espiritual da comunidade. E entenda-se por desenvolvimento humano e espiritual, tratando estas duas palavras juntas, sem dicotomia. Era muito mais que simples assistencialismo religioso. Eles viveram na comunidade como um deles. Começaram morando numa casa de taipa e aos poucos foram construindo uma mais sólida e espaçosa. Seus filhos (Débora, Paulo e Julia) cresceram em Trapiá. E eu pude desfrutar da amizade desta família que, como poucos, me ajudaram a mudar radicalmente meu conceito do que é "estabelecer o reino de Deus" nesta terra.

Muito mais do que construir igreja e formar religiosos, uma das características da ação de pessoas inspiradas por Deus em um lugar tem como principais sintomas:

- Diminuição da injustiça
- Valorização da vida
- Desenvolvimento humano
- Educação
- Organismo comunitário participativo

E por aí vai...

E o presente curta, do também amigo de longas datas Marcus Chastinet, trabalho este realizado em parceria com o curso de cinema da UFC, onde o mesmo estuda, trata exatamente deste aspecto transformador que a presença de uma família cristã em um lugar esquecido pelo estado pôde atrair de benefícios e transformação. E tudo isso narrado pelos próprios moradores de Trapiá.

Hoje a família Wilson, depois de muitos anos em Trapiá, voltaram para a Inglaterra. Há poucas semanas estive lá, nesta comunidade para celebrar o aniversário da igreja batista que nasceu como apenas um dos muitos frutos deixados pela família Wilson. Porém, ao observar aquela igreja completamente cheia de jovens e adolescentes, percebo o legado deixado, e como fiquei feliz por saber que a obra é de Deus, que através de sua imagem e semelhança (humanidade), quando esta se abre para a influência do Mestre de Nazaré, é capaz de transformar qualquer circunstância em algo melhor. Ou seja, esperança!

Família Wilsom
Deb, Davina, Mike, Paulo e Julia

Pena que em um país onde mais de 90% da população se declare cristã, a realidade seja absurdamente contrastante ao que se é declarado. Mesmo com maioria cristã, o Brasil é considerado um dos países mais corruptos do mundo (em quase todas as áreas há sempre uma forma de corrupção), e apesar de estar entre as 10 maiores economias do mundo, é um dos países onde ainda há mais desigualdade.

Alguma coisa está errada não?

Ainda bem que, em meio a essa podridão, existem ainda focos da Graça de Deus, onde podemos nos inspirar e perceber que existe sim gente que lava o Reino de Deus a sério neste mundo.

Obrigado Marcus Chastinet por conseguir captar de forma tão bela e sincera esse foco da Graça chamada Trapiá!

Assistam abaixo o excelente curta-metragem "Trapiá - Uma Comunidade":

 

14 setembro 2012

Resenha (Filme): O Ditador (EUA - 2012)



Filme: O Ditador (EUA - 2012)
Diretor: Larry Charles
Estúdio/Distribuidor: Paramont Pictures / Four by Two / Kan Zaman

Teve um filme do Jim Carrey que particularmente me marcou muito. Chamava-se "O Mundo de Andy" (EUA - 1999) e tratava da história do comediante Andy Kaufman, comediante americano que foi pioneiro no estilo "personagem que interage com o mundo real". Ele criava personagens bizarros e fazia com que esses personagens se metessem em situações reais para ver as mais diversas reações das pessoas comuns. Na época ele dividiu muito a opinião pública. O que era tremendamente engraçado para uns, para outros era a mais absurda brincadeira de mau-gosto.

Um dos poucos comediantes que consegue brilhantemente criar estes tipos de, digamos, intervenções humorísticas é Sasha Cohen. Conheci esse cara através do filme Borat (EUA - 2007). Fui ver esse filme na mais completa ignorância, e de repente me deparei com um dos melhores filmes que, para caras que sentem a "síndrome da vergonha alheia", é uma tortura à beira do insuportável. Um repórter árabe vem aos EUA (numa época pós 11 de setembro) e começa a revelar facetas de sua curiosa cultura para americanos comuns (e diga-se por "comuns" aqueles tipos americanos mais preconceituosos e ignorantes). Enfim, depois disso fui procurar tudo sobre esse humorista no youtube e encontrei uma infinidade de personagens. O cara é muito bom!

Ao contrário de Borat e Bruno (EUA - 2009), O Ditador é um filme sem aquele estilo de intervenções no mundo real. O personagem interage com atores, com roteirinho padrão de filme e tudo. Porém, a ideia em si do roteiro é genial. Pois o mesmo trata de uma sátira da perspectiva americana do mundo árabe. E ao mesmo tempo, faz um paralelo entre uma ditadura declarada de um país árabe fechado com algumas facetas da chamada "democracia" ocidental. E uma olhada atenta fará você perceber que, apesar de toda a capa de uma pretensa liberdade, em muitos aspectos a ditadura é a mesma coisa. Claro que tudo devidamente maquiado. Enfim, basta você assistir o filme e ouvir com atenção o discurso que o ditador faz na ONU, então de repente seus olhos abrem e você percebe como o "sistema" funciona.

Definitivamente, a meu ver, a melhor forma de você passar uma ideia é através do humor. Este tem a capacidade miraculosa de não só alertar os ignorantes (como eu), mas também, vez sem conta, fazer com que os atingidos pela crítica riam de sua própria desgraça. E caras como Charles Chaplin, a trupe inglesa Monty Python e Michael Moore, por exemplo, são craques nisso!

É o que eu sempre digo: quer saber o que está acontecendo no mundo? Alguns buscam informações através de jornais e revistas. Eu, no entanto, escuto os humoristas e, claro, a musica pop.

Enfim, no pior das hipóteses acaba sendo um entretenimento divertido. Certamente esse filme vai arrancar de você muitos risinhos em sinal de perfeita cumplicidade às traquinagens do personagem principal.

Confira no vídeo abaixo o trailer do filme "O Ditador":

11 setembro 2012

Resenha (Documentário): Botinada - A história do punk no Brasil (Brasil - 2006)



Documentário: Botinada - A história do punk no Brasil (Brasil - 2006)
Diretor: Gastão Moreira
Estúdio: St2 Video

Neste exato momento que começo a escrever sobre este documentário que trata das origens do movimento punk aqui no Brasil, em meu fone de ouvido começa a rolar Beauty Queen, uma erudita e sofisticada música do Roxy Music que, como muitas outras bandas da década de 70, encantaram públicos do mundo todo com sua extraordinária capacidade técnica.

A década de 70 é basicamente isso, uma banda mais pomposa que a outra, cheio de efeitos de sintetizadores e a era de ouro dos grandes guitarristas. O que, até certo ponto é muito bom. Digo até certo ponto pelo simples fato de que, no universo da música, quando um estilo musical vai se tornando engessado e repetitivo, e você pensa que o rock está minguando, aparece do nada um estilo ou movimento musical e puxa que teu tapete - e você, pasmo, se pergunta "que diábo é isso?".

A grande ruptura musical da década de 70 certamente foi o punk. Afinal de contas quem disse que uma atitude musical só pode ser expressada se você for um puta músico que desliza os dedos na guitarra numa avalanche de notas? O punk foi um verdadeiro soco no estômago da indústria musical, e uma esperança de expressão para aqueles que sempre quiseram fazer barulho mas não conseguem produzir mais de 4 ou 5 notas. Caras como eu, por exemplo, passou a sonhar seriamente em ter uma banda de rock tendo em vista a facilidade e acessibilidade da musicalidade punk. Direto ao assunto, objetivo e sem rodeios.

Já ouvi alguém dizer que o punk não passa pelo cérebro, vai direto pro estômago. Ou sai direto dele, pois parece um sentimento que vêm do mais fundo de nossas entranhas. Um grito de libertação, uma agressividade terapêutica.

Hoje, para aliviar a tensão, muita gente vai dar uns murrinhos em sacos de areia nas academias. Antigamente alguém cheio de energia e tensão provavelmente montava uma banda punk na garagem de casa.

O presente documentário, dirigido pelo ex Vj da MTV Gastão, que chegou até a apresentar o excelente programa Musikaos na Tv Cultura, narra a história de como surgiu o punk aqui no Brasil, desde o acesso aos primeiros discos, a proliferação das fitas, e finalmente o punk como movimento. Foram 4 anos de pesquisa e 77 entrevistados!

Apesar de ter focos do movimento punk em Brasília e Salvador, o documentário explora a perspectiva paulista que, aliás, atribui a Sampa o berço do punk no Brasil. E aborda também o universo de rivalidades entre os punks da capital paulista e os punks da região do ABC. Os primeiros festivais em porões sujos, até chegar na USP, o surgimentos das gangues, até a perseguição da mídia e repúdio público que deu fim ao movimento em meados da década de 80. Do surgimento ao declínio, a história se passa entre 1976 à 1984.

O diferencial do documentário é que a narrativa é construída em cima da perspectiva dos entrevistados. Esses, os próprios punks, ou os principais deles, hoje são profissionais das mais diversas áreas.

Outra coisa hilária é que, nos festivais, as bandas eram tão ruins no começo que a galera expulsava a banda do palco e pedia pro organizador botar pra rolar a fita cassete. As festas das fitas!

Além dessa avalanche de informações, ainda tem imagens raríssimas de performances das bandas punks pioneiras como Banda do Lixo, Olho Seco, Inocentes, Restos de Nada, Cólera e por aí vai! Muito bem montado, e principalmente contado, o documentário te mantém preso do começo ao fim... E mostra como esse movimento tão pouco compreendido conseguiu influenciar bandas que hoje são figurinhas carimbadas nas Fm's, e você nem imagina.

Enfim, confira na íntegra esse instigante documentário no vídeo abaixo!

p.s. - dica: aumente o volume e afaste os móveis!