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10 dezembro 2011

Confesso: Sou garoto de programa!

Introdução

É isso mesmo pessoal, eu agora sou garoto de programa. Já faz um tempinho que queria declarar isso publicamente no meu blog mas por falta de tempo... Quer dizer, por pura negligência da minha parte para com vocês, desocupados leitores, só agora é que eu realmente sentei o traseiro na cadeira para falar desta minha nova empreitada. E sobre isso vos falo agora.

Capítulo 1
Como tudo começou

Este humilde blog surgiu na ideia de ser um espaço para eu escrever crônicas sobre a minha vida (original não!?). E se você tiver paciência para ir aos primeiros textos, verá que houve tentativas. Era uma mistura de idéias poéticas com minhas percepções do cotidiano. Enfim, devo ter escrito um pouco mais de seis textos e, como era de se esperar, o blog, digamos, deu uma morrida. 

Chegou um momento que simplesmente me faltava imaginação para escrever. Um branco criativo que se alastra como um vírus na vida de muitos blogueiros sinceros. E quando caia de escrever, por vezes ficava repetitivo, pois geralmente passo muito tempo sendo martelado pelas mesmas questões. Enfim, acabava escrevendo o mesmo texto, sobre o mesmo assunto, só que de forma diferente.

Já que eu (apesar do branco criativo sem cura) teimosamente não queria deixar o blog morrer totalmente, resolvi escrever sobre as duas coisas que eu mais gosto de degustar nesta vida: livros e discos.

E acabou que deu super certo. Uni do útil ao agradável. Em nenhum momento eu quis fazer críticas técnicas sobre as obras. Mas queria escrever sobre como essas obras me afetam de alguma forma. Cada livro lido ou disco escutado transformam, ou dá sensações ao leitor/ouvinte e por vezes inspiram a pensamentos. E nesses pensamentos surgem meus textos. A união da obra com minha percepção. E daí que, se você for ler as resenhas abaixo verão que eu acabo inserindo muito mais revelações da minha vida que informações sobre a obra propriamente dita.

Então consegui criar uma identidade pro blog. Uma maquete pronta com necessidade apenas de ser preenchida. E isto tornou meu trabalho (lazer) de escrever muito mais fácil de ser executado. E claro, menos repetitivo, uma vez que leio sobre tudo o que você imaginar e ouço músicas de todos os tipos. Então os textos ficaram do jeito que eu gosto, uma salada mista de assuntos e sons.

Capitulo 2
BemTv    

E neste universo blogueiro fiz muitos amigos. Leio muitos blogs! Se quiser um exemplo disto basta olhar para a coluna direita do monitor e vai ver mais de cem blogs que eu sigo e leio regularmente. 

A prática da blogagem tem que ter necessariamente essa camaradagem. Se uma pessoa gasta o tempo dela lendo meu texto, por quê então eu não posso gastar um tempinho lendo o texto dele como gratidão? E até comentando? Nisto ganhei muitos amigos e leitores. Se você tem um blog, não seja cú doce (termo cearense que denota boçalidade, gabolice), não ache que tudo tem que girar em torno do seu blog. Leia outros blogs, muita gente boa por aí escreve sobre coisas do seu interesse.

Pois bem, um destes leitores é o Anso Rodrigues, que escreve no excelente blog http://ansorodrigues.blogspot.com/ . Este cidadão além de blogueiro é também editor e produtor de uma TV local aqui em Fortaleza. Claro que ele, inquieto como sempre, não se acomodou a isso e resolveu criar sua própria Tv na Web, batizando-a de BemTv.


A proposta da BemTv é criar programas para a web de qualidade e, principalmente, criatividade. E Anso tem competência de sobra pra isso. Sei do profissionalismo dele porquê eu mesmo tive o prazer de trabalhar com ele em uma produtora aqui em Fortaleza. E como a produtora era pequena ele fazia só tudo: editava, dirigia, produzia, fazia assistência de produção junto comigo. Enfim, ele sabe muito bem como funciona esse universo de mídia.

E já que ele gostava muito das minhas resenhas de músicas (e dos ácidos comentários sobre discos que vezes sem contas eu compartilhava com ele nos botecos da vida regado a cerveja barata) ele teve essa ideia de me meter num programa sobre músicas. E daí surge o Prosa Disco.


Capítulo 3

Prosa Disco (ou: O primeiro programa a gente nunca esquece.) 


Então marcamos reunião para pauta (tomando uma cervejinha no Pão de Açúcar do Center 1) e basicamente o Anso disse: 

- Cara, tem segredo não, só quero que você olhe pra câmera e converse com o público como você conversa no blog. 


Há tá! Como se fosse a coisa mais fácil do mundo!

Uma coisa é você cagar sozinho no seu banheiro. Outra coisa é cagar com pessoas olhando para você.

Uma coisa é escrever sozinho de frente pro netbook. Outra coisa é você falar olhando para uma câmera e soar tão natural como verborragias em mesas de bar regadas a cerveja. Não dá! Todo mundo é corajoso na frente de um teclado (Fato!).

Enfim, coloquei uma tonelada de obstáculos. Resultado: o Anso (junto com o inseparável produtor Rodrigo Caravajal) mandaram simplesmente eu tomar naquele lugar e intimaram minha presença no local de gravação no outro dia pela manhã para gravar quatro programas duma vez só. Aí já viu né? Tive uma noite péssima!

Capitulo 4
É agora José!

Marcamos de gravar na Planet CD's. Simplesmente uma das lojas de discos mais tradicionais da cidade. O lugar é um dos meus paraísos na terra. E é lá que todo mês eu torro uma considerável parcela do meu salário. Enfim, pelo menos é um lugar onde realmente eu me sinto em casa.

Ficamos tão gratos pela calorosa recepção do Márcio (dono da loja) e dos vendedores que o Anso até fez um VTzinho pra loja.



Como não tenho nenhuma experiência nessa coisa de apresentador, estava mais perdido que cachorro que cai de carro de mudança, tremendo mais que vara verde. Boca seca, estômago embrulhado. Resumindo, estava me sentindo um completo merda e idiota.

Estupidamente achei que se eu lesse os textos no meu blog (gravamos sobre discos já comentados no blog anteriormente) eu decoraria boa parte do assunto e ficaria tudo bem. E isso foi muita burrice da minha parte. Se você está lendo até agora já deve perceber que meus textos, ao contrário do meu pênis, são beeeeeem longos!

Chega a hora, gravação do primeiro take, coletânea dos Beatles, eu super nervoso, o Anso fala GRAVANDO!!!, e de repente tem um cara parado diante da câmera, com cara de idiota, sem saber balhufas do que falar.

Deu branco total.

Então fomos para a segunda tentativa. E eu, sem nem ter ensaiado, tentei imitar a voz desses caras que apresentam programas de músicas. Tipo Vj, com aquela voz irritante super pra cima (já tinha trabalhando numa rádio uma vez e sabia exatamente como é essa voz). Ficou um horror.

Terceira tentativa, quarta tentativa...

Depois da quinta paramos as gravações. O quadro era o Anso cada vez mais puto e eu cada vez mais com vontade de sair correndo dali. Quando de repente o lado produtor-bruto-filho-da-puta (tipo Marlene Matos) tomou conta do Anso e ele me disse:

- Porra George, relaxa caralho! Eu sei e você sabe que você pode fazer essa porra! Para de ficar querendo imitar esse Vjs viadinhos da Tv, seja você mesmo porra! Conversa com a câmera! Fale normal, seja você e pronto! Você pode! Só vamos sair daqui depois que a gente terminar de gravar essa porra, nem que seja só um programa!


Enfim, depois desta "leve" prensa, respirei fundo e encarei a coisa toda. Claro que com uma das características que me acompanham quando fico nervoso: Muuuuuito palavrão!


Eis o resultado:  



Terminei de gravar esse programa e, óbvio, fiquei com a sensação de ter feito algo muito ruim, beirando o péssimo.

Anso ficou empolgado e disse que era exatamente o que ele queria.

Enfim, vá entender como funciona a cabeça de produtor/editor né?

Mas uma coisa deve ser dita, o apresentador pode ser muito ruim e falar muita asneira, mas que edição caprichada ein!?

Editor realmente tira leite de pedra!


Capítulo 5
A segunda dose sempre desce menos amarga

- E aí pessoal? Já deu? Bóra pra casa?

- Tá louco??? Bora gravar pelo menos mais duas, vá trocar essa camisa!!!

Camisa trocada, um gole d'água pra aliviar a boca seca e vamos nessa falar do álbum Vs. do Pearl Jam.

Óbvio que eu vesti uma camisa devidamente quadriculada  e um boné (depois eu vi que o boné ficou uma merda...). Era até mais fácil falar deste disco. Fiquei até pensando do por quê eu não comecei por ele. E desta vez eu tive uma ideia ótima e óbvia, pontuei algumas informações importantes num papel e pedi pro Rodrigo segurar. Pronto! Já neste precisei apenas de uma tentativa. Obviamente ao terminar eu fiquei com aquela mesma sensação da gravação anterior. Fiquei imaginando como um fã do Pearl Jam iria receber esse vídeo. E tremi na base por conta da responsabilidade.

Acabou que foi um pouco menso difícil fazer esse. Um pouco menos... Dá para perceber que ainda falo palavrões e tenho vários víciozinhos de linguagem. 

Não sei vocês, mas toda vez que me vejo num vídeo ou ouço a gravação da minha voz eu acho a coisa mais pavorosa do mundo! Parece que é outro cara falando. Nossa, se eu não fosse eu e me encontrasse por aí certamente ia achar eu mesmo muito irritante!

É, eu sou auto-crítico mesmo!

Enfim, confiram abaixo o segundo programa:



Capítulo 6
Fechando a trilogia... (Ufa!)

Trocando a camisa mais uma vez e no embalo de ter gravado num só take o programa anterior, pensei que não seria problema gravar o terceiro.

O disco escolhido desta vez foi o Rodox, segundo disco da banda que leva o mesmo nome, e que é ex-banda do Rodolfo, ex Raimundos.

Talvez você se assuste no choque que é falar dos Beatles, depois Pearl Jam e Rodox. Mesmo os três sendo considerados rock, são ramificações bem diferentes.

Agora a forma como eu escolho o álbum é que determina isso. E é muito simples. Eu vou na minha lista de músicas no Ipod, aciono o aleatório e o primeiro álbum que aparecer eu falo sobre ele.

Esta é minha forma de não ser repetitivo. Até porque sou muito de fases, e durante longos períodos costumo ouvir um mesmo tipo de som, até enjoar e partir pra outro.

Então o barato é escrever sobre um álbum super sofisticado do Pink Floyd seguido de uma resenha do Pinduca! Mistureba total! Adoro isso!

p.s. - o mesmo sistema faço com os livros, só que com eles é mais artesanal. Tenho todos eles escritos em papeizinhos numa caixa. Ai balanço a caixinha umas sete vezes e escolho o livro que vai ser comentado no blog. É, eu devo ser um doente mental mesmo! (risos) 


Tirando estas esquisitices minhas, gostei bastante deste terceiro programa. Nesta altura eu já tava na filosofia:

Está no inferno, abrace o cão então! 

E né que fluiu um pouco melhor!

Ou estou enganado? Me diga você meu nobre e crítico leitor:




Capitulo Final
Goodbye ou Hello?

Começar é sempre difícil. Realmente acho que, no geral, eu não dou conta do recado de ser um apresentador. Mas quer saber? Não custa nada tentar. Sou perfeitamente capaz de, quem sabe um dia, aprimorar mais, aprender mais etc.

Hoje olhando os vídeos me bate certo orgulho. Claro que o programa está criando forma e realmente eu não esperava ter o melhor desempenho do mundo como apresentador. O lance é encarar a coisa com certa despretensão.

Em termos de visualizações, em nenhum conseguimos a meta do Anso que era pelo menos mil. Acho que em dois tivemos um pouco mais de quinhentas e no do Pearl Jam tivemos pouco mais de trezentas. Bem, dependendo com quem você compara pode ter sido um fiasco ou um sucesso.

Comparado às visualizações no meu blog por exemplo, posso dizer que mais de quinhentas visualizações é um número astronômico! (risos)

O que me importa mesmo é o Anso e sua equipe da BemTv acreditarem no projeto. Enquanto eles estiverem no barco eu também vou estar. No pior das hipóteses eu ainda tenho meu blog e estes programas eu vou poder mostrar pros meus filhos e dizer:

- Olha aí como o papai era descolado!   

Então desde já um profundo e sincero agradecimento a todos os leitores do blog Mundo Facundo. Estes vídeos são dedicados a todos vocês!

E vem outros por aí viu!

Aguardem!

B-sides

Pois é, aproveitando o espaço para postar meus programas, aproveito também apra postar aqui, como registro, minha participação no Programa Matina (TV União - Fortaleza), no quadro Galera Matina. 

Na ocasião, eu e outros bons convidados, todos muito bem entendidos de músicas, estávamos lá para comentar a morte da Amy Winehouse e também sobre a "lenda" dos astros da música que morrem aos 27 anos.

Enfim, gostei muito de ter participado e conheci muita gente interessante, até um neto bastardo do meu bisavô...

Confiram abaixo o programa que foi dividido em duas partes:

Parte 1


Galera Matina - música from Rede União TV on Vimeo.

Parte 2


Galera Matina - música - parte 2 from Rede União TV on Vimeo.

29 setembro 2011

Nos porões do american way of life!



Livro: A Caldeira do Diabo
Autora: Grace Metalious (1924 - 1964)
Editora: Nova Cultural -1986
Páginas: 414

Geralmente quando viajo uma grande distância de carro, em qualquer lugar do país, encontro no trajeto inúmeras cidadezinhas de beira de estrada. Alguma delas chama a atenção pela beleza, limpeza e ar de perfeição. Casinhas lindamente pintadas, uma praça central limpa, uma igreja no centro (como de praxe); pessoas aparentemente normais e pacatas transitando de um lugar para outro. Tudo no lugar! Tudo! O mercadinho, a padaria, a farmácia, tudo dentro de uma organização que pode até lembrar aquelas cidades cenográficas das novelas globais.

Geralmente cidadezinhas assim gera admiração e exclamações do tipo - Nossa! Isto aqui é o paraíso! Certamente um lugar perfeito para se viver uma boa velhice.

Tempos atrás fui fazer um bico para um grande amigo meu produtor e trabalhei dois dias como assistente de câmera num destes enormes condomínios fechados de ricaços aqui nas redondezas de Fortaleza. Curioso o grande contraste. Em um momento eu via pela janela da van casas simples, todas gradeadas, muros pichados, gente de todo tipo transitando no caos das ruas. E de repente, ao entrar nesse condomínio a paisagem da janela da van se transforma. Vejo casas gigantescas, lindamente projetadas, grama verde, brinquedos de crianças espalhadas pelo jardim, pessoas passeando despreocupadas nas ruas do condomínio. O lugar é enorme, você nem sente que está num condomínio fechado. Só se você andar muito vai perceber os muros que separam aquele mundo do outro mundo lá fora.

Quando olho para mim mesmo e comparo minha reação ao ver esses lugares em contraste com a reação maravilhada das pessoas a minha volta, por vezes assusto-me com o fato de minha reação ser sombria.

Sempre olho com pessimismo as aparentes perfeições que se mostram diante de mim. Ao me deparar, principalmente, com lugares perfeitinhos como uma cidadezinha pequena, uma instituição religiosa ou um condomínio fechado; sinto a inevitável voz da minha mente martelando a pergunta: - Muito bem, olhe com atenção para isso tudo e tente ver o que há de podre no local.

Não importa quão perfeito você aparenta ser; você sabe e eu sei que você, assim como eu e todos os outros, temos nossos demoniozinhos interiores, segredinhos, sujeirinhas etc. E isso se estende para o seio familiar e, claro, ampliando mais, as sociedades organizadas.

Desconfio muito de gente perfeitinha. É gente assim que entra em casa armado e sem motivo aparente mata toda a família suicidando-se em seguida. Imagine o perfeito e simpático atendente de padaria da sua vizinhança em situação extrema, como uma guerra por ex. Esse cara certamente vai ser aquele que comete as maiores atrocidades e no julgamento irá afirmar com frieza que estava apenas seguindo ordens.

Bons filmes mostram muito bem esta atmosfera do que há de podre nos bastidores de uma comunidade perfeitinha.

Um dos filmes certamente é Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands – 1990). E um outro filme que, com certeza, talvez chegue mais perto ainda do ponto a que eu quero chegar é o ótimo Beleza Americana (American Beauty – 1999).

Muito antes destes dois filmes, uma escritora chamada Grace Metalious (1924 – 1964) chocou a América com seu livro A Caldeira do Diabo (Peyton Place). No livro, a autora retrata a vida e rotina de uma cidadezinha do interior dos EUA chamada Payton Place. 


Ela foi uma das pioneiras a bater de frente ao conceito american way of life. O que há por trás dessa pequena e simpática cidade? Incesto, violência doméstica, tortura psicológica, existência vazia, rotina, tragédia, assassinato, partidas e retornos. Tudo isso narrado de forma visceral, arrebatando-nos como fantasmas espionando a rotina de cada casa, família e indivíduo.

Grace Metalious


Por vezes, ao ler este livro, tive realmente uma sensação claustrofóbica, mergulhando fundo junto aos dramas de alguns personagens. Ela genialmente lhe faz desenhar na mente toda a cidadezinha. Você se sente como um expectador, um voyeur, um dos velhos que ficam sentados no alpendre da mercearia no centro da cidade fumando um cachimbo, observando os moradores e acompanhando atentamente o movimento da cidade e as várias estórias por trás dela.

O livro foi grande sucesso de público (mesmo a crítica tendo taxado o livro de trash), sendo considerado o primeiro grande campeão de vendas nos EUA. E obviamente o cinema aproveitou o grande sucesso do livro para gravar o filme com o mesmo título e também foi recorde de público nas salas de cinema até aquele momento. Estou falando do ano de 1957.

Tive o prazer de encontrar este livro abarrotado com outros tantos em uma imensa prateleira em um sebo muito popular aqui no centro de Fortaleza (Sebo O Geraldo). Na imensa prateleira tinha apenas uma plaquinha dizendo Qualquer livro daqui – R$ 2,00. Então comecei a garimpar todos aqueles livros e me chamou muito a atenção esta capa com a imagem de uma linda mulher e o título A Caldeira do Diabo. Comprei o livro e não me arrependi. 

Foram dois reais muito bem empregados! 

Devorei o livro em poucos dias e realmente a cidadezinha de Payton Place deixou-me marcado para sempre com suas inúmeras estórias e seus inesquecíveis e marcantes personagens. 

23 agosto 2011

Simon & Garfunkel: Os namoradinhos da América!


Artista: Simon and Garfunkel
Álbum: Simon and Garfunkel's Greatest Hits
Ano: 1972
Gravadora: Columbia


Não tenho absolutamente nada contra coletâneas. Elas servem como um direto ao ponto de músicas fundamentais de um artista. Juntam em um disco aquelas canções que cronologicamente foram marcantes na construção e solidificação de toda uma carreira.

É bem verdade que geralmente os fãs (e quando eu digo fãs eu quero dizer os de verdade, aqueles que curtem até os B-Sides obscuros de sua banda e artista predileto) tendem a torcer o nariz para coletâneas.

Enfim, coletânea para quem é fã é sempre assunto de polêmica, mas é necessário dizer que tem muitas coletâneas que marcaram minha vida. Como já falei neste blog antes, o primeiro contato que eu tive com o rock foi com a coletânea vermelha dos Beatles que pegava do primeiro disco da banda até o Revolver.

Quem nunca quase queimou o toca cd de tanto ouvir repetidamente o disco Legend do Bob Marley? Ou já teve dias ensolarados regados ao excelente Greatest Hits do Police?

Essa lenga-lenga é só para justificar o fato de, pela primeira vez neste blog, eu escrever sobre uma coletânea. E no caso, uma coletânea desta dupla norte-americana que são filhos legítimos e da gema de Nova York.

Paul Simon e Art Garfunkel representam para NY na música o que Woody Allen representa para NY no cinema.

Muitas de suas canções retratam o cotidiano da cidade com verdadeiras crônicas. Uma fotografia em forma de sons e poesias.

Ambos cresceram na comunidade judaica do Brooklin e se conheceram na escola ainda crianças. Encenaram uma peça juntos, ficaram amigos e criaram uma dupla chamada Tom e Jerry, sendo que, se você der uma boa olhada para a fotografia da capa do disco verá que eles estão mais para Pink e Cérebro.

Fizeram um relativo sucesso na cidade. Cresceram, foram para a faculdade e depois de um tempo retomaram as atividades musicais.

Com toda influencia folk da época, gravaram várias músicas acústicas (dentre elas The Sound of Silence) e Paul Simon, talvez decepcionado com a pouca repercussão de seu trabalho, deixou os EUA e foi ganhar a vida na Europa, mais precisamente na Inglaterra, fazendo muitas apresentações ao estilo um banquinho e um violão por vários barzinhos de lá.

Enquanto isso nos EUA, o produtor Tom Wilson pegou a versão até então acústica de The Sound of Silence e adicionou bateria, baixo e guitarra à música. E daí surgiu o grande sucesso que provavelmente foi um dos pontapés iniciais da onda de folk-rock que, num futuro muito próximo, incendiaria toda aquela geração 60/70.

Paul Simon, voltando aos EUA, deparou-se com sua música sendo exaustivamente pedida e tocada nas rádios. Retomou a parceria com Garfunkel e, aproveitando o sucesso, gravaram o álbum devidamente intitulado The Sound of Silence (1966) composto tanto de sons puramente acústicos como ao estilo folk-rock.

Assinaram a trilha sonora de um filme sucesso de bilheteria chamado A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate - 1968) lançando as músicas The Sound of Silence e Mrs. Robinson aos ouvidos do mundo.

Num momento histórico com o planeta prestes a explodir naquele final da década de 60 cheia de revoluções culturais - a guerra fria gelando a espinha dorsal da juventude com a perspectiva de uma guerra atômica e o sangue correndo solto no Vietnã - Simon e Garfunkel cantaram aquela geração com suavidade e beleza letras que ficaram marcadas na memória e no coração de todos os que viveram aqueles anos loucos e inesquecíveis. 

Art Garfunkel e Paul Simon 


É praticamente impossível rodar qualquer filme que retrate aquela época sem uma música deles. Daí filmes como Forrest Gump (1994) e Quase Famosos (Almost Famous - 2000) que não me deixam mentir.

Entre brigas e reconciliações (como é de toda amizade), esta dupla deixou registrados cinco álbuns que certamente irei ter o prazer de degustar e escrever aqui no Mundo Facundo futuramente.

Esta coletânea retrata seus melhores momentos com alguns dos sucessos em versão ao vivo.

Obviamente, como é de toda coletânea, muita coisa boa ficou fora. Mas as que estão no disco (principalmente para aqueles que querem ter um apanhado geral da obra da dupla) tá de bom tamanho.

Simon e Garfunkel entraram em minha história com seu show ao vivo em NY, no Central Park em 19 de setembro de 1981. Faltavam menos de três meses para eu nascer, e lembro que minha mãe ouvia esse disco o tempo todo e cresci com ela falando que esse show foi feito para celebrar o meu nascimento. E eu acreditava piamente nisso!

Isso sempre ficará profundamente tatuado em minha memória.

FAIXA A FAIXA:

1 – Mrs. Robinson (Paul Simon)

Gravada originalmente para o filme A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate – 1968), esta canção rendeu a dupla dois Grammys em 1968 nas categorias: melhor gravação e melhor desempenho nos vocais. E, até então foi o segundo grande sucesso da dupla depois de The Sound of Silence ficando aproximadamente duas semanas no topo do Hot 100 da Billboard.

A música trata da Sra. Robinson, uma típica religiosa fundamentalista americana, que nesta crônica, é a caricatura da mulher de família cheia de segredinhos e submundos por baixo dessa cobertura devota de uma mulher de sociedade acima de qualquer suspeita.

Hide it in a hiding place
Where no one ever goes.
Put it in your pantry with your cupcakes.
It's a little secret,
Just the Robinsons' affair.
Most of all, you've got to hide it
from the kids.

E, se isso não bastasse, a letra ainda dá uma alfinetada no fato de ser exatamente este tipo de gente que determinam os caminhos políticos do país.

Sitting on a sofa
On a Sunday afternoon,
Going to the candidates' debate,
Laugh about it,
Shout about it,
When you've got to choose,
Every way you look at it you lose.

2 – For Emily, Whenever I May Find Her (Paul Simon)

Você já passou pela experiência de ter um sonho maravilhoso com a pessoa que você ama, e ao despertar tem a alegria de perceber a pessoa dos teus sonhos dormindo ao seu lado?

Eu já!

E realmente é algo quase indescritível. Digo quase porque Paul Simon conseguiu descrever isso nesta linda música que, suave e forte, penetra na alma, nos arrebatando ao mais sublime sentimento.

Essa música faz parte do álbum Parsley, Sage, Rosemary & Thyme (1966), e aparece nesta coletânea em versão ao vivo.

And when I awoke
And felt you warm and near
I kissed your honey hair
With my grateful tears

3 – The Boxer (Paul Simon)

Como bom cronista, Paul Simon escreveu essa letra, inspirada em leituras da bíblia onde, em alguns textos, viu refletida a perspectiva de Deus a favor dos trabalhadores e excluídos. 

Somou isso a algumas críticas que vinha recebendo sobre seu trabalho da imprensa americana e narrou nesta canção a história deste personagem (o lutador) que como todos os demais lutadores nesta vida, apesar das intempéries, da pressão e dos adversários que se levantam, continuam na luta diária.

Simon mistura a ideia do ringue à própria vida! O que para mim, marca profundamente minha alma pelo fato de eu estar em um trabalho que envolve alguns riscos.

Trabalhando na semiliberdade de jovens e adolescentes infratores aqui em Fortaleza como educador, ando pensando muito sobre a diferença de ter medo e ser covarde. Ter medo não é problema, e a coragem implica em se enfrentar os problemas em detrimento dos medos interiores. O que é bem diferente da covardia, onde já é o medo mandando no estilo de vida da pessoa.

Então aprendo que, apesar do medo e do perigo, temos que respirar fundo e seguir em frente!

In the clearing stands a boxer
And a fighter by his trade
And he carries the reminders
Of ev'ry glove that layed him down
Or cut him till he cried out
In his anger and his shame
"I am leaving, I am leaving"
But the fighter still remains

4 – The 59th Street Bridge Song (Feelin’Groovy) (Paul Simon)
Sabe aquelas manhãs ensolaradas em que você acorda feliz da vida dando bom dia para tudo? 

Pois é, quando isso acontecer, ligue o som e coloque esta canção a todo volume!

Outra versão ao vivo que entra nesta coletânea.

I've got no deeds to do, no promises to keep
I'm dappled and drowsy and ready to sleep
Let the morning time drop all its petals on me
Life I love you, all is groovy

5 – The Sound Of Silence (Paul Simon)

Primeiro grande sucesso da dupla, The Sound Of Silence ficou conhecido no mundo por, além de ser um dos pontapés iniciais do folk-rock, ainda estar na trilha do filme A Primeira Noite de Um Homem, levando a dupla nova-iorquina ao conhecimento e a apreciação dos ouvidos em todo o mundo!

6 – I Am A Rock (Paul Simon)

Esta também foi uma das acústicas que foram transformadas em folk-rock para entrar no álbum The Sound of Silence e seguiu no rabo do foguete desta tornando-se também um grande sucesso.

Trata-se de um genuíno intelectual urbano. Fechado, introspectivo, onde só encontra verdadeira afinidade na solidão do quarto tendo como companhia livros e poesia.

Eu mesmo passo por momentos de reclusão onde não quero ver ninguém. Preciso da solitude para, digamos, recarregar minha mente, oxigenando-a com muita música e literatura, para aí sim, depois de recarregado, gastar minha alma com as outras pessoas.

Porém, no caso da música, fala de um cara que tem isso como um estilo de vida.

I have my books
And my poetry to protect me;
I am shielded in my armor,
Hiding in my room, safe within my womb.
I touch no one and no one touches me.
I am a rock,
I am an island.

And a rock feels no pain;
And an island never cries.

Conheço pessoas assim. E sinto certa pena. Pois, a princípio, realmente há certo conforto, uma vez que, já que não me exponho para ninguém, corro pouco risco de ser magoado.

Ao mesmo tempo, essa zona de conforto leva à latência emocional que impede o crescimento. 

Somos frutos de nossos erros e acertos. E até a dor pode gerar aprendizado em quem está disposto a ver a vida como uma grande sala de aula.

As experiências ruins devem gerar em nós prudência, e não medo de viver e se relacionar com os outros.

7 – Acarborough Fair / Canticle (Paul Simon & Art Garfunkel)

Agora a dupla adapta uma música do cancioneiro popular inglês onde se conta a história da feira de Acarborough, muito popular na época da Inglaterra medieval.

Tratada aqui numa versão acústica e com a voz da dupla levando a melodia a atmosferas épicas! Na  letra tem o trecho que dá nome ao título do segundo álbum da dupla Parsley, Sage, Rosemary and Thyme (1966).

8 – Homeward Bound (Paul Simon)

Outra canção do álbum PSRT e que, de forma magistral, consegue traduzir numa letra inesquecível como é a vida de um músico na estrada.

Hoje até um festival mediano é cheio de superprodução. Porém antes os músicos, mesmo no auge, tinham uma rotina estafante de shows, rodava em vãs apertadas e se hospedavam em muitos hotéis com poucas estrelas. Motivo por muitos sucumbirem às drogas e ao álcool para suportar o rojão de muitos shows.

9 – Bridge Over Troubled Water (Paul Simon)

Se existe uma canção que é capaz de quebrar o mais embrutecido coração, essa canção é Bridge Over Troubled Water, música que dá nome ao álbum lançado em 1970.

Composta numa época bastante conturbada para a dupla, uma vez que Garfunkel estava em muitos outros projetos paralelos que não a música e que, naturalmente, isso afetava bastante a amizade da dupla. E essa música, dizem, Paul Simon fez para o amigo e parceiro.

Ela foi muito impactante em minha vida numa época bastante obscura, cheio de incertezas e inseguranças. E esta deliciosa canção me veio como a voz do próprio Deus me confortando.

If you need a friend
I'm sailing right behind
Like a bridge over troubled water
I will ease your mind

10 – America (Paul Simon)

Não tem uma única vez que eu escute esta canção e não tenha calafrios. Uma música que encaro como um quadro pintando daquela época cheia de idealismo, onde muitos jovens saíam de casa, protestando contra os pais e o sistema, indo numa longa jornada em busca da América.

Todo nostálgico da década de 60 deve emocionar-se ao som desta música. E os que não viveram aqueles bons tempos, mas mesmo assim sonham com aquele momento (como eu!) deve fechar os olhos e sonhar! Sonhar com o verão do amor!

11 – Kathy’s Song (Paul Simon)

Uma canção que certamente é para um amor, ou um dos amores, que Paul Simon deixou na fria e cinzenta Inglaterra.

12 – El Condor Pasa (If I Could) (Paul Simon – J. Milchberg – D. A. Robles)

Aqui você escuta Paul Simon dando asas a sua grande curiosidade por sons de outras culturas (no caso o Peru), com sua versão em inglês da canção do peruano Daniel Robles Alomia. E como toda música peruana, aborda o desejo do homem por um estilo de vida mais natural e menos urbana.

I'd rather be a forest than a street
Yes, I would
If I could
I surely would

I'd rather feel the earth beneath my feet

13 – Bookends (Paul Simon)

Linda música que dá nome ao quarto álbum de estúdio da dupla. Uma suave canção que fala sobre um tempo de inocência que quase todos nós vivenciamos. Essa eterna nostalgia do passado presente na memória de muitos de nós. Como um sonho que já passou.

Preserve your memories, they're all that's left you...

14 – Cecilia (Paul Simon)

Música alegre que fala de uma garota que certamente fez Simon sofrer horrores por conta, digamos, dela ser daquelas que, como diria Raul Seixas:

Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais.

Cecília representa um pouco desta mulher contemporânea que, por ser independente, arrojada e feminista, acabou por absorver do homem a poligamia que ela tanto lutava contra.

Tipo - À partir de agora os homens vão beber de seu próprio veneno!

Making love in the afternoon with Cecilia
Up in my bedroom
I got up to wash my face
When I come back to bed
Someone's taken my place

Claro que, segundo a música, para a alegria do homem de malandra, ela volta pra casa e ama-o novamente.

E ele acredita.

A PREDILETA:

Difícil escolher a predileta de uma coletânea recheada de clássicos.

Porém, hoje mais uma vez vou apelar para o cinema, que é responsável por muitas de minhas descobertas musicais.

No caso, acho que essa é minha cena preferida no cinema.

E digo mais: cena predileta de meu filme predileto!

Trata-se de Quase Famosos (Amoust Famous - 2000) do meu (também) diretor predileto: Cameron Crowe.

Na cena antológica, como era muito comum na década de 60, a filha chega para a mãe e diz que vai sair de casa. E o motivo dela sair de casa está na canção America de Simon and Garfunkel, do álbum Bookends.

Então, à partir daí, a música toma conta da cena.

Em seguida a filha diz para o irmão mais novo que, embaixo da cama tem um presente que o libertará. E quando ele entra no quarto e olha embaixo da cama (bingo!) encontra uma bolsa recheada de discos clássicos do rock!

E para saber como aqueles discos irá mudar a vida dele você vai ter que ver o filme!

Então deixo vocês ao som de America!


05 junho 2011

Para Nerds e afins




Livro: O Guia Do Mochileiro Das galáxias - Volume Um Da Triologia De Cinco
Autor: Douglas Adams (1952 – 2001)
Editora: Sextante
Páginas: 208

Algumas piadinhas para começar:

Estava brincando de esconde-esconde Einstein, Newton, Pascal, Galileu Galilei entre outros grandes nomes da Física.
Era a vez de Einstein tampar a cara e começar a contar enquanto os demais se escondiam.
Todos conseguiram um esconderijo com exceção de Newton, que sobrou.
Tentou Newton se esconder atrás do sofá, mas levou um chega pra lá de Pascal:
- Eu já tô aqui, vai se esconder em outro lugar!
Tentou então se esconder atrás da cortina, mas lá estava Galileu.
Sem opção de esconderijo, Newton pegou um giz e desenhou um quadrado com arestas iguais a 1 metro no chão da sala, e ficou ali em cima do quadrado.
Einstein termina a contagem e de cara encontra Newton:
- Newton! Já te achei cara! Você não se escondeu não?
- Opa! Pera aê! Mas eu sou Pascal!

Entendeu? Não!? Ok, tentemos novamente:

O que disseram para o hidrogênio quando ele foi preso?
- Você tem direito a uma ligação!
E o que ele respondeu?
- Mas eu não tenho família!

Ainda não!? Vamos lá, não desista! Mais uma então:

O que o carbono disse quando foi preso?
- Eu tenho direito a 4 ligações!

Ainda sem entender? Tá, mais uma sequência de piadas bem rápidas:

Por que o urso branco se dissolveu quando caiu na água?
Porque ele era polar!

O que 6 carbonos de mãos dadas estão fazendo com 6 hidrogênios na igreja?
BENZENO!

Qual é o bicho que tem entre 3 e 4 olhos?
O pi’olho

Um ladrão roubou uma joalheria e levou um anel benzênico.
Resultado: mandaram-no pra cadeia carbônica! Mas não tem problema, porque ele fugiu pagano C3H4 (propino)!

O que acontece quando se excita o elétron?
Ele fica com o spin pra cima!

Porque a célula foi ao psiquiatra?
Porque ela tinha complexo de golgi!

Porque o martelo e a tesoura são hidrocarbonetos?
Porque o martelo é propino, e a tesoura é propano!

Qual barulho um elétron faz quando arrota?
Bohr!

Qual barulho um elétron faz quando cai no chão?
Planck, Planck!

Por que não se pode comer um elétron?
Porque ele tem spin.

E aí? Deu boas gargalhadas?

Se a resposta for negativa, acho que há uma boa probabilidade de O Guia do Mochileiro Das Galáxias, definitivamente, não ser a sua praia literária.

Se, contudo, você gostou apenas de algumas, e mesmo não entendendo todas as tiradas cômicas destas piadas, assim como também as da série The Big Bang Teory, ainda assim gosta e até ri em certos momentos (que é o meu caso), penso que vale a pena tentar ler O Guia do Mochileiro das Galáxias.

E se você se esbaldou de rir das piadas, acha o Sheldon (The Big Bang Teory) um personagem genial, assim como todo o roteiro da série e é um estudante aplicado do universo das exatas, penso que O Guia do Mochileiro das Galáxias vai ser um dos livros mais espetaculares que você já leu na vida! Sem exagero! Pois, antes de escrever esta resenha eu tive o trabalho de ligar para todos os meus amigos cabeçudos das mais diversas áreas das exatas e o que ouvi no fone foi um som quase que orgásmico de satisfação ao falarem do livro.


Gosta? Então leia!


Eu, apesar de ter um cérebro, digamos, pouco privilegiado e bastante limitado para assuntos científicos, gosto muito de The Big Bang Teory, e voltando algumas décadas, gosto muito do grupo Monty Python, que entre anos 60 e 70 foram um grupo de comédia britânico que, com seu humor refinado para inglês ver, fizeram rir muitas gerações.

Se você ainda não assistiu aos filmes Em Busca Do Cálice Sagrado (1975), A Vida de Brian (1979) e O Sentido da Vida (1983) (todos estes filmes do grupo Monty Python), corra agora para a locadora e alugue porque você praticamente ainda não viveu!

O grupo Monty Python foram pioneiros do chamado Humor do Absurdo. Estilo de humor que influenciou filmes como Corram que a Polícia Vem Aí (1994), Top Gang - Ases Muito Loucos (1991), Apertem Os Cintos - O piloto Sumiu (1980)! etc.

Claro que Monty Python é muito melhor!

E Douglas Adams, na época áurea do Monty Python colaborou em muitos episódios. E muito deste humor absurdo ele com certeza levou para a série O Guia Do Mochileiro Das Galáxias, primeiramente como estórias narradas para a rádio (BBC de Londres) e, posteriormente, transformada em livro no final da década de 70.

O primeiro livro narra o começo desta jornada louca na vida de Arthur Dent, um típico inglês fleumático que tem um dia difícil por ter sua casa demolida para a construção de um desvio e que, se isso não bastasse, é resgatado da destruição da terra por seu melhor (e talvez único) amigo Ford Prefect, que revela que é na verdade um alienígena.

A terra foi destruída pelos Vogons, que fizeram isso porque o planetinha estava exatamente na rota da construção de uma espécie de Via Intergaláctica.

Daí o pobre Arthur, confuso e atônito, embarca nessa aventura pelo universo rodeado de personagens, digamos, muito loucos (para dizer o mínimo) numa odisseia mergulhada em situações bizarras e absurdas.

Questões como o sentido da vida, as grandezas das leis físicas, teorias psicológicas e astronômicas do mais alto nível acadêmico, a religião, e claro, a boa e velha burocracia britânica são os ingredientes para que a genialidade de Douglas Adams crie esse enredo maluco e engraçado que envolve o leitor página após página.



Douglas Adams


Claro que, dentro de minha limitação, passei batido em muitas das piadas que, para entender, teria que ter sido um bom aluno de física e matemática. Nunca pensei que fosse me arrepender de, quando não dormindo, ter ficado no fundo da sala folheando revistas de mulher pelada nas aulas do primeiro e segundo grau.
                                  
Logo vou ler os outros livros da série e com certeza falarei neste blog novamente sobre eles!

E isso! 

24 maio 2011

Aconteceu na entrada do céu... Eu Juro!



Pastor Malacraia, fervoroso combatente contra a legalização da livre sodomia no Brasil estava na TV debatendo o tema com Toninho Rainhas (líder nacional da ABGBLT – Associação Brasileira de Gays, Bissexuais, Lésbicas e Transexuais) que, ao contrário do Pastor Malacraia, defendia fervorosamente que homem é homem, menino é menino, macaco é macaco e viado é viado.

Acontece que, num sei por que cargas d’agua... Há, tá bom vai! Como eu sou o criador desta estória, eu fiz com que dois refletores bem pesados do palco do programa caíssem respectivamente na cabeça dos dois, e as alminhas deles foram subindo ao céu como o Alex Kid quando morre no jogo. Alguém lembra do game Alex Kid do Master System? Alguém? Alguém?

Enfim, como mariposas numa noite de chuva voando em direção à lâmpada quente, os dois como dita a praxe de qualquer imagem do céu, foram caminhando para a luz.

Enquanto Toninho caminhava choramingando mimimimi emocionado com a luz, Malacraia que já esperava algo parecido, estava equacionando na mente o tamanho da mansão celestial que ia receber e quantos diamantes ia ter na coroa dele, sendo que cada diamante equivale ao número de pessoas que se converteram através de seu ministério.

Jesus, junto com o inseparável anjo Gabriel, fez questão de recebê-los!

- Oláááááááá queridos! Bem-vindos ao céu, venham para meus braços, aqui há muitas morad...

No que foi interrompido abruptamente pelo Malacraia, que vociferava com toda sua fúria e saliva:

- COMO ASSIM BEM-VINDOS NO PLURAL??? ACEITARÁS ESTE PERVERTIDO NO CÉU??? NÃO ADMITO ISSO!!! ESTÁ NA PALAVRA, PODE CONFERIR!!! O SENHOR JAVÉ A INSPIROU!!! ME TRAGAM UMA BÍBLIA AÍ QUE EU MOSTRO!!!

Jesus, removendo o cuspe do Malacraia de sua barba, olhou para o Gabriel e perguntou:

- Tem algum exemplar do livrão na biblioteca celestial?

- Pera chefe, vou ligar pra lá! Alô!? Ei Salomão, tem algum exemplar do livrão aí? Tem!? Ótimo! Manda aí! Pronto, apareceu aqui! Valew cara! Não esquece que hoje vai ter sinuquinha lá no Sky Ceia Bar! Os Mamonas vão dar uma canja lá! Massa, combinado! Té mais seu nerd! Pronto chefe, tá aqui o livrão!            

Jesus disse:

- Pronto Malacraia, o livro está aqui!

Malacraia respondeu:

- NUUUUUNCA PENSEI QUE FOSSE TER QUE ENSINAR A BÍBLIA PRO PRÓPRIO JESUS, MAS BORA LÁ, TEM ESSA NÃO! NUNCA É TARDE PRA APRENDER NÉ? POIS Ó, GABRIEL, LEIA AÍ PARA O TEU CHEFE LEVÍTICO 18:22, LEVÍTICO 20:13, 1 CORÍNTIOS 6: 9-10 E ROMANOS 1: 18-27. LEIA AÍ! TÁ TUDO AÍ NA PALAVRA DE DEUS! VAI SE CONTRADIZER AGORA SENHOR??? DEPOIS DE VELHO??? VAI VIRAR O RICARDO GONDIM AGORA??? ME RESPONDA!!!

Jesus, novamente removendo o bombardeio de saliva do Malacraia da barba olhou de lado e perguntou pro Gabriel:

- E aí? Confere?

- É chefe, confere!

E Toninho, coitado, soltou uns mimimi’s mais mimimi’s ainda!

Jesus disse:

- Pois é, diante disso não me resta muita coisa a fazer né!? Pô Toninho, foi por pouco meu velho, desculpa aí qualquer coisa viu! Por mim você entrava, de verdade, mas sabe como são os pais né, meu Pai Javé é muito cabeça dura para mudanças! Perfeccionista no que diz respeito a onde encaixar as genitálias! Ele quer que tudo seja de acordo com o propósito natural que Ele criou. Trocando em miúdos, cú foi feito pra cagar! Eu sei, meu Pai é assim mesmo! É muito difícil mudar a cabeça de um velho. Quase que Ele não deixava eu descer à terra! E mesmo assim, quando eu voltei de lá todo arrebentado Ele foi logo jogando na minha cara: - Eu num disse? Tooooooome pra você aprender! Ainda vai? És muito teimoso meu filho! Etc. Enfim... Vá entender Ele né!? (Respirou fundo e prosseguiu...) Pois bem, diante do livrão não há nada que eu possa fazer. Gabriel, leve os dois lá pra baixo!

Enquanto o Toninho soltava um xilique ameaçando desmaio com os mimimi’s mais altos que já chorou na vida, Malacraia perturbado, atordoado, alucinado, sem acreditar, surpreso com a sentença vociferou:

- COMÉ QUE ÉÉÉÉÉÉ??? ISSO É UM ABSURDO SENHOR!!! QUEM FOI EFEMINADO, SODOMITA, QUE DEIXOU O COSTUME NATURAL, FOI PROMÍSCUO, DEFENDEU A PL-122, ENFIM, QUEM DEU O CÚ AQUI FOI ELE SENHOR!!!

No que Jesus, depois de novamente limpar a barba do cuspe do Malacraia respondeu:

- É verdade meu filho, ele deu o cú. Mas convenhamos Malacraia, francamente, você foi muito pau-no-cu* com seu irmão Toninho agora! Então, pau no cú por pau-no-cu, desce os dois! Assunto encerrado!

Portanto, quem afirma estar na luz mas é pau-no-cu com seu irmão, continua nas trevas.
1 João 2.9 (Traduzido dos originais para o português por Falcão, humorista cearense)


* Pau-no-cu (Dicionário Cearense) - Pessoa extremamente babaca, que gosta de prejudicar as outras ou gosta de ver os outros em dificuldade. Ex. "O motorista pau-no-cu me fechou no cruzamento e eu atropelei a velha!"

06 maio 2011

My Sweet Trapiá

Wilson's House


Se eu tiver a sorte de chegar a ter uma boa velhice, e estiver na minha cadeira de balanço fumando meu cachimbo olhando para o tempo, afogado em pensamentos e lembranças, certamente uma dessas doces lembranças que terei será dos momentos que passei em companhia da Família Wilson no Sítio Trapiá, esse lugarzinho perdido no meio do Nordeste do Brasil, região rural de Assú, à 45Km de Mossoró (RN).

E foi nesta região de onde tenho tantas boas recordações e amigos eternos que eu e Paulo Wilson, no carnaval deste ano (2011) que passei por lá, compomos em parceria uma música que homenageia um senhor de mais de oitenta anos chamado Zé de Tonho que, com essa idade, tem gás de sobra para animar os forró’s que a comunidade frequentemente promove.

Paulo Wilson


Essa música fala basicamente desse fascinante senhor e da beleza que está no envelhecer! Beleza esta hoje tão desprezada por muitos desta geração que olham a velhice como uma maldição da existência.

Paulo Wilson é filho de Mike e Davina Wilson, missionários ingleses que há mais de vinte anos trabalham na comunidade Sítio Trapiá.

E quando eu falo trabalhar não me refiro às ações de muitas missões gringas aqui no Brasil para implantação de igrejas. Ao contrário, eles vieram no intuito de trabalhar junto à comunidade local para, com ações de conscientização na área social, educacional e agrária, tentar melhorar sensivelmente a qualidade e expectativa de vida dos moradores locais.

O casal têm três filhos: Débora, Paulo e Julia.

 Família Wilson
Deb, Davina, Mike, Paulo e Julia

Estou lendo um livro chamado Cartas entre Freud e Pfister, que são as cartas trocadas pelo pai da psicanálise e um pastor protestante. Aparte todo o embate ideológico que os dois travavam, é comovente ver que, em detrimento disso, existia uma grande amizade entre os dois. Estou citando esse livro pelo fato de, em uma das cartas, Pfister declarar:

“Se me perguntassem sobre o lugar mais aprazível da terra, eu responderia: informem-se na casa do professor Freud!”

Faço desta frase de Pfister a minha para os Wilson. Eles que sempre em minhas visitas me acolhem tão bem, e com os quais aprendi e aprendo tanto!

Gabriel no triângulo, eu na percussão, Zé de Tonho na Viola e João da Baleia na sanfona
Animando o "risca faca"! 

Infelizmente não se têm (pelo menos por enquanto) um registro da música em áudio. Mas deixo registrado abaixo a letra. Ela tem um formato bem simples, cantado quase como uma “embolada”, mas como compositor de primeira viagem me dou por satisfeito!

Abraço a todos!

ZÉ DE TONHO – Paulo Wilson & George Facundo

Zé de Tonho já tá véi
Num pode mais jogar bola
Se correr por um minuto
Fica com a língua pra fora

Vocês sabem como é
A velhice é de lascar
Dói os ossos, dói o corpo
E esporte nem pensar

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço

Cabra novo vê um véi
E faz logo palhaçada
Dizendo que velho é frouxo
E num serve mais pra nada

Eu escuto coisa assim
Fico logo irritado
E vou mostrar pra voçê
Que ser velho num é pecado

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço

Você fala sem respeito
Que nunca quer ser avô
Pois deve de ser muito triste
Num sentir fogo do amor

Sinto muito lhe dizer
Mas você tá enganado
Pois depois lá do viagra
O negócio tá animado

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço

O Velho tem caminhada
Tem vida e alegria
É o melhor pra ensinar
Amor e sabedoria

Ser velho é para poucos
Né pra qualquer vagabundo
Vá chegar aos oitenta
Com tanta ruindade no mundo

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço

Homem como o Zé de Tonho
Todos têm que respeitar
Pois com a idade dele
Faz forró em Trapiá

Queria eu ser como ele
Que mesmo não sendo atleta
É admirado por todos
Pela alma de poeta

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço

O jovem vem se amostrá
Sabem ler e escrevê
E pensam que com os velhos
Não tem nada o que aprender

O segredo de uma vida
Não é ser ligeiro e forte
Tem que ser muito sabido
Pra poder enganar a morte

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço

De agora em adiante
Mude seu jeito de ver
E aprecie com respeito
A benção que é envelhecer

A gente apresentou
Uma rima pra vocês
Feito por um cearence
Junto com um lord inglês

(Refrão 2x)
O seu nome é Zé de Tonho
Esse cabra é talentoso
Tem alma de forrozeiro
É poeta desde moço