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23 dezembro 2010

Por uma catequese mais aprofundada, e nada mais...






Livro: Catequese Com Estilo Catecumenal
Autor: Antônio Francisco Lelo
Editora: Paulinas
Páginas: 62


Não sei exatamente a realidade do Norte e Centro-Sul do país. Mas aqui no Nordeste, no que diz respeito a cristianismo, há uma verdadeira multidão de religiosos sem um mínimo de profundidade de conhecimento sobre a religião que pratica. Que dirá os dogmas.

Um exemplo básico disto são as chamadas Escrituras Sagradas (Bíblia para os íntimos). Livro este que tem em suas páginas o que se julga ser toda regra de fé e conduta do cristão. E, quando você vai conversar com qualquer religioso cristão, e começa a perguntar se eles leram o documento sagrado, bem, a maioria vai responder - Na verdade não, só alguns fragmentos.

Isso é curioso, e até contraditório. E revela bastante sobre nossa geração.

Realmente, depois da objetividade de toneladas de informações na internet, e ainda após os famosos 150 caracteres do Twitter, é difícil que algum cidadão com mais coisas para fazer possa ter tempo de ler os documentos sagrados.

E como toda causa gera uma conseqüência, vemos toda uma geração de cristãos (católicos e protestantes) completamente alienados de princípios básicos da verdade revelada por Jesus, sendo descaradamente ludibriadas por um sem número de líderes oportunistas, ou, no caso aqui do Nordeste, por festas e movimentos religiosos.

O livro Catequese com Estilo Catecumenal, de Antônio Francisco Lelo, serve exatamente para denunciar essa superficialidade teológica que boa parte dos aprendizes a primeira comunhão e crisma (o autor é católico) vivenciam.

O autor chama a atenção ao questionar o por que da catequese ser apenas uma fábrica de alunos que aprenderam apenas a decorar dogmas, e não aprender a fundo o que cada símbolo litúrgico, junto com as verdades bíblicas têm a dizer.

Você assinaria um documento sem antes ler?

Como então você vai confessar que um documento é de fato sagrado, que um Deus é de fato verdadeiro, ou que uma religião é de fato legítima se você não a estudou nem procurou se aprofundar no que ela ensina?

Parece bobagem, mas nessa perguntas está a linha tênue que existe sobre o fato de sua motivação ser a contemplação da verdade ou apenas um interesse mesquinho de se conseguir as coisas.

Apesar de ser mais técnico ao mostrar como se pode catequisar alguém com mais profundidade, consegui enxergar neste livro algumas preocupações geradas em torno desta pergunta.

Se você quiser ler um livro que tenha um discurso mais crítico e profundo sobre liturgia e derivados dela, certamente você vai encontrar livros melhores nas livrarias Paulinas, Vozes, etc.

Esse no entanto aborta isso timidamente no prefácio, meio que tentando auto justificar sua proposta catequética.

Escrito sob medida para sacerdotes e líderes católicos. 

O leitor comum vai achá-lo enfadonho.

* * *

Interlúdio

Católicos Vs. Protestantes

Sou protestante (hoje prefiro o termo detestante) desde meus quinze anos. E ao contrário de muitos testemunhos, eu não era um bêbado, que vivia drogado e hoje está curado porque aceitou Jesus. Para ser bem objetivo, eu ter ido parar numa igreja batista foi a soma de alguns fatores.

O primeiro fator, sendo bem sincero, é que de fato, apesar de ir a missa todos os domingos (até os quinzes eu me confessava católico) sempre achei a liturgia católica fria e impessoal. Falo da liturgia católica do meu bairro em particular.

O segundo fator foi o fato de eu ter sido reprovado na escola e, por conta disto, ter perdido uma bolsa de estudos. O que fez minha mãe me matricular numa escola mais barata no meu bairro. A escola era de confissão protestante.

E isso me leva ao terceiro fator, que foi ter feito amizades com meus colegas de classe nesta nova escola (boa parte filhos de lideranças protestantes) e naturalmente ir rolando os convites para conhecer a igreja deles.

E daí já dá para prever né!? Em pouco tempo eu era mais um na estatística da até então grande migração de católicos para o protestantismo.

Que me desculpem os católicos, mas era latente na época a diferença litúrgica entre as duas religiões. O protestantismo oferecia uma liturgia que colocava os membros numa atmosfera mais pessoal com a divindade e com o sacerdócio. Lembro na minha primeira visita o pastor me chamar para almoçar na casa dele. E lembro a primeira vez que eu dei as mãos em volta da mesa e agradeci a Deus pelo alimento.

E esse foi o grande fator checkmate de tudo. Como filho de mãe solteira, apesar da infância feliz eu tinha muita carência de figuras de autoridades em minha vida. Eu praticamente parasitava os pais dos meus amigos. E a igreja se tornou então este seio familiar que tanto me faltava.

Só depois é que de fato eu fui me atentar para questões doutrinárias. E fui bastante estimulado pela igreja a aprofundar meus estudos sobre as escrituras.

Da Igreja para o seminário, e do seminário a este profano que vos escreve foram um sem número de livros e disciplina acirrada de estudos.

Ao que parece, o catolicismo nas últimas décadas vêm aprendendo a lição, e tem tornado suas celebrações bem mais pessoais para os fiéis.

O teólogo Carlos Queiroz tem um interessante estudo demonstrando o processo de pentecostalização do catolicismo, e a catolicização e umbandicização do protestantismo.

No geral, hoje (para o bem ou para o mal) acho as duas gritantemente semelhantes. Os protestantes, dentre muitas coisas, acusam os católicos de idólatras (para usar apenas um exemplo), no entanto a idolatria protestante existe sim e é muito mais perigosa por ser sutil (no caso das igrejas chamadas históricas) e não tão sutis assim (como no caso das igrejas neo-pentecostais).

Toda denominação protestante é um mini-Vaticano em potencial; onde, como na igreja Católica, tem um Papa (chamado no protestantismo pastor presidente, bispo, apóstolo ou Pai-póstolo) que determina as ações e pensamentos das ovelhas. É só trocar a Infabilidade Papal por Infabilidade Pastoral (ou doutrinária), trocar inquisição por disciplina, e excomunhão por:

- Você está convidado a sair de nosso meio, irmão.

Até parece ironia, mas falo isso tendo uma profunda dívida de gratidão pela igreja. Apesar de crer que Jesus Cristo, se viesse ao mundo hoje, passaria bem longe de qualquer uma delas, acho que historicamente a existência delas é reconhecidamente legítima e importante para a formação de nossa sociedade.

Na igreja (católica e protestante) conheci o que há de mais mesquinho e potencialmente mau em um ser humano, e também conheci gente que transbordava piedade e amor como nunca vi em lugar nenhum.

Apesar de freqüentar dominicalmente uma igreja convencional, sinto a muito tempo que ideologicamente não faço mais parte dela. Pegando as palavras de Yancey:

Embora seja evangélico e escreva frequentemente sobre minha fé, nunca aceitei a igreja com facilidade. Algumas vezes, sinto-me fora do lugar dentro dela e tento ajustar-me, como alguém que procura fazer com que um paletó de outro tamanho lhe sirva bem.

Hoje já consigo ver tranquilamente catolicismo e protestantismo como parte de um todo.

Quanto a mim, não partidarizo mais por nenhuma, nem católicos, nem protestantes. Nestas horas lembro-me do velho Paulo (com quem particularmente tenho muitas rixas):

Explico-me:
Cada um de vós diz: Eu sou de Paulo!, ou Eu sou de Apolo!, ou Eu sou de Cefas!, ou Eu sou de Cristo!
Cristo estaria assim dividido?
1 Coríntios 1: 12 – 13ª

Não querido Paulo, Ele não está! 

Ate por que, Jesus definitivamente desburocratizou a nossa conexão com Deus. Segundo jesus, para falar com Deus, basta nos trancarmos na solidão de nosso quarto e seguir as instruções de Gilberto Gil na música abaixo:

 

26 novembro 2010

O começo da guinada dos Beatles!


Banda: The Beatles
Álbum: Help!
Ano: 1965
Gravadora: Parlophone / EMI 

Nem lembro ao certo como este disco veio parar em minha coleção. Deve ter sido despojo de algum amigo adepto de MP3 que queria se livrar da velharia que ocupava espaço na estante.

Help!, quinto álbum dos Beatles, lançado em julho de 1965, seguiu a fórmula filme/álbum de A Hard Day’s Night (conhecido no Brasil com o ridículo título Os Reis do Iê Iê Iê).

1965 foi o ápice da Beatlemania. Help! foi gravado às pressas durante uma semana. A primeira parte do disco tem o repertório usado no filme, e a segunda composições adicionadas para terminar de rechear o álbum. E convenhamos, que recheio!

Entretanto, o que me chama a atenção em Help! é mais o contexto em que Paul, George, John e Ringo vivenciaram naquele momento na carreira.


Beatlemaníacas
 
Concordo com os críticos quando afirmam que o álbum Rubber Soul foi o pontapé inicial para uma guinada musical na carreira do quarteto.

Porém, digo que Rubber Soul foi apenas a conseqüência de tudo o que eles viveram entre os álbuns Beatles For Sale e Rubber Soul. E Help! está exatamente entre estes dois discos.

Com a explosão de popularidade dos Beatles após cair nas graças dos americanos e do mundo; mulheres histéricas gritando a cada movimento no palco e nas ruas; condecoração dada pela realeza britânica com a Ordem do Império Britânico; e com todo o paparico e mimo de todos (maioria oportunistas); é mais que esperado que depois do rojão alucinado de viagens, shows, entrevistas e exposição pública, Help! se torne um disco emblemático que , de fato, marca a necessidade dos garotos descansarem dessa loucura, e repensarem eles mesmos como músicos e como pessoas.


Run Forrest, run!

Depois do lançamento do filme/álbum Help!, os Beatles foram a primeira banda de rock a tocar em um estádio aberto. Mais de 55 mil pessoas (maioria mulheres) lotaram o Shea Stadium (NY), gritando histéricas e descontroladas.

A gritaria era tão ensurdecedora que a banda mal conseguia ouvir o som de seus instrumentos. E depois disto eles se questionaram seriamente até que ponto toda aquela massa admirava a musica que eles faziam ou se apenas os viam como quatro caras bonitinhos fazendo musicas fofinhas.

Depois de Help! e todo o contexto que os cercaram, eles finalmente se sentiram no dever de se desenvolverem como músicos e passaram a escrever canções com intuito de primeiramente agradar mais a eles mesmos do que aos fãs.


John: - Num tô ouvindo porra nenhuma!
Cara do som: - Hã!?

Para isto, o grupo deu um tempo com os holofotes e partiram em busca de significados para suas vidas.

A necessidade de auto-conhecimento (que culminou na viagem à India), suas primeiras experiências com LSD e mais tempo gasto no estúdio, fariam com que a banda finalmente abandonasse a imagem de singelos bons garotos e, com isto, transformaram eles mesmos e a música pop para sempre.

FAIXA A FAIXA:

1 – Help! (Lennon / McCartney)

Uma das músicas em que mais John expôs sua inquietação diante de tudo o que estava acontecendo com ele. John mesmo confessou em uma entrevista que Help!, de fato, era um grito por socorro!

Sem dúvida uma de minhas músicas preferidas desse disco.

2 – The Night Before (Lennon / McCartney)

Musica de Paul, onde ele exprime o universal sentimento masculino de ter tido uma noite daquelas com uma mulher maravilhosa. Ela, óbvio, não quer mais saber de você, e aquela noite entra na sua coleção de boas lembranças que não voltam mais.

Ah… the night before (Ah... aquela noite).

3 – You’ve Got To Hide Your Love Away (Lennon / McCartney)

Nesta linda música, ouve-se claramente John querendo soar Bob Dylan. O mais curioso nela é que John a fez para o empresário da banda Brian Epstein, homossexual que não cansava de assediar John.

A música foi escrita em primeira pessoa, tentando representar a perspectiva de Epstein.

4 – I Need You (Harisson)

Essa é a segunda contribuição de George nos Beatles. Alem de cantar sua própria música, ela também tem um efeito de volume que George colocou no pedal da guitarra.

O resultado ficou muito bom!

5 – Another Girl ( Lennon / MacCartney)

Dizem que todo baixista é um músico frustrado. Pois nesta música Paul jogou sua frustração de lado e assumiu a guitarra solo.

A música é um chega pra lá numa garota do tipo: Se toca, já arrumei outra minha filha!

Menino mau!

6 – You’re Going To Lose That Girl (Lennon / MacCartney)

Olha, acho que toda namorada que é maltratada por um bunda mole deveria mostrar essa música pra ele. Cantada em primera pessoa, ela mostra a perspectiva do Ricardão.

Em geral, no quesito traição, a mulher é diferente do homem na motivação. Mulher trai movida por sentimentos como frustração, vingança, solidão enfim, por algum grau de desvalorização por parte do parceiro. 

Ai já viu né!? Aparece aquele rapaz de fala mansa, todo atencioso e educado, sussurrando no ouvido dela: – Nossa, como pode um cara ter uma rainha como você e não tratá-la a altura. Você é linda, única, maravilhosa...

Resultado, o bunda mole do namorando, que não valorizava a namorada por despeito e falsa sensação de macho-alfa, se vê de joelhos, chorando como um bezerro desmamado, implorando miseravelmente pra garota voltar pros seus braços. E daí tome promessas!

John sabia das coisas, tanto que, sabendo desse perigo, resolveu deixar de ter trabalho com as mulheres bonitas e partiu pras feias. E encontrou a paz que desejava com a Yoko.

Então caras, tratem bem suas garotas! Senão tem quem as tratem bem por você...

Recado dado!

7 – Ticket To Ride (Lennon / MacCartney)

Gosto muito da sonoridade dessa música. Ela já destoa do resto do álbum. Tem um peso na bateria e novamente Paul fazendo solos de guitarra deixando George de lado. Já é, certamente, uma sombra do que viria a ser o álbum Rubber Soul.

8 – Act Naturally (Morrison / Russell)

Tornou-se quase uma tradição sempre em cada álbum ter pelo menos uma música cantada por Ringo. E a escolha da música para ele em Help! é ótima.

Super divertida, a música fala de um cara feliz por ter sido chamado para uma participação em um filme. No caso, ele teria que fazer o papel de um cara triste e solitário. E para isso ele não precisaria ensaiar nada, apenas Act Naturally (agir naturalmente).

9 – It’s Only Love (Lennon / MacCartney)

Apesar de bonitinha, esta é uma das músicas que John menos gosta. Ele considera-a uma das piores que já fez. Talvez seja por (ao contrário de temas pessoais como Help!) esta não lhe representar nada e não lhe dizer nada. Uma música qualquer feita para tampar eventualmente algum buraco no disco.

O que mostra que cantores podem sim escrever sobre amor, sentimentos etc. sem, no entanto, ter nenhuma inspiração.

10 – You Like Me Too Much (Harisson)

Segunda participação de George em Help! Assim como a anterior, é uma romântica tipo homem sexo frágil que soa a: - Não me deixe! Você gosta de mim gata, eu sei que gosta! O que vai ser de mim sem você?

Será que George lembrou destas letras quando, anos depois, perdeu a mulher para o melhor amigo Eric Clapton?

11 – Tell Me What You See (Lennon / McCartney)

Gosto muito dessa música, principalmente do som do piano elétrico tocado por Paul.

12 – I’ve Just Seen a Face (Lennon / McCartney)

Inspirado na musica country, Paul manda um acústico encorpado com sua linda voz.

É, eu prefiro Paul, réu confesso!

13 – Yesterday (Lennon / McCartey)

Linda e eterna! Não é à toa que está marcada na história como a música mais regravada de todos os tempos.

Até Sinatra e Elvis, que sempre trataram os Beatles como músicos de segunda, cairam nas graças do quarteto de Liverpool depois desta música.

Paul disse em uma entrevista que a melodia surgiu em sua mente após acordar de um sono profundo, ao levantar cambaleando foi direto para o piano reproduzi-la. Nos dias seguintes ele mostrou a melodia para várias pessoas perguntando se elas a conheciam. Quando se convenceu que aquela melodia não existia, ele colocou a letra.

Yestarday é linda, singela e fala de um amor perdido. É certamente o maior sucesso de Paul.

14 – Dizzy Miss Lizzy (Williams)

E para terminar o disco, e também a fase que se encerra com Help!, um cover de Larry Williams, onde o velho Rockabilly come solto. Acho que ela foi gravada com um pouco de nostalgia dos tempos de Cavern Club em Hamburgo.  

A PREDILETA:

Decisão difícil em um disco com tantos clássicos. Mas pela originalidade, e por realmente gostar mais dela, fico sem medo de ser feliz com Ticket To Ride.




* * *
Interlúdio



De como o Rock’in Roll entrou em minha vida...

Eu, como qualquer outra pessoa criada na periferia de uma grande capital do Nordeste do Brasil, desde cedo fui apresentado ao que seriam as influências musicais da região, sendo por assim dizer forró, forró, forró, forró, lambada, axé, pagode, sertanejo e brega.

Com seis anos, garimpando uma pilha enorme de vinis na sala da minha casa, encontrei em meio a tantos discos, um que me chamou atenção.

A capa tinha contorno vermelho. No centro uma foto enorme com quatro rapazes sorridentes olhando para a câmera, de terninho, encostados num parapeito em um dos vários andares do interior de um prédio qualquer.

Na parte superior da capa um nome que, até então soava estranho e desconhecido para mim:

The Beatles

Tratava-se da famosa coletânea vermelha dos Beatles que abarcava a carreira deles entre 1962 e 1966. 

Lembro de ter pensado: - Que raio de nome era esse?

Até porque, não fazia idéia de que em algum lugar no mundo existia gente que falava outra língua além do português. E claro, meu universo se resumia a minha escola, minha casa e minha rua.

Mas nada disso importou. Olhei aqueles quatro rapazes e pensei: - Gostei deles!

 Então, fui à velha radiola Gradiente, levantei a tampa, tirei o disco do Luís Caldas de dentro e coloquei o disco 1 - lado A (a coletânea tinha dois discos).

Meu brinquedo mais precisoso na infância

Quem nasceu na geração do vinil deve ser familiarizado com aquele nostálgico som do chiado, resultado da agulha deslizando no vinil saindo da caixa de som. Então começou a tocar Love Me Do, seguido de Please, Please Me e From Me To You.

Pronto! Foi amor à primeira audição. Definitivamente minha vida (e meus ouvidos) nunca mais seriam os mesmos. Não entendia bulhufas do que eles cantavam. Mas lembro de experimentar uma estranha (e deliciosa) sensação de liberdade e euforia. Aquele disco se tornou meu primeiro vício. O brinquedo mais precioso na infância.

Escutava-o todo santo dia. Quase o tempo todo. Sendo obrigado (a muito contragosto) a dar pausa para ir à escola, fazer tarefa de casa, brincar na rua (já essa não era tão a contragosto assim) e claro, deixar que as outras pessoas da casa também ouvissem seus discos.

Ao contrário do que muitos dizem sobre o rock ser símbolo de rebeldia, no meu caso passei a ser uma criança mais disciplinada. Uma vez que minha mãe passou a usar o disco para fazer chantagens do tipo: - Se tirar nota baixa na escola eu vou jogar a porra desse disco fora ta ouvindo?

Minha santa mãezinha era uma educadora de primeira. Lembro como hoje, quando eu, em casa, falava algum palavrão tipo merda, ela, usando de sua pedagogia Super Nanny anos 80, logo censurava: - Olha aqui seu bosta, não quero saber de porra de palavrão em casa! Tá ouvindo seu caralho?

Desde então, sempre procuro evitar falar palavrão! Puta que pariu, e como eu evito!

Uma vez perguntei a minha mãe como ela adquiriu o disco dos Beatles. Ela disse que foi presente de um carinha sem sal (tipo George Harrison) que era apaixonado por ela. Ela disse que no dia dos namorados ele chegou na porta da casa dela com um presente. Ela disse que quando abriu o presente e viu que era um disco dos Beatles, na hora mandou ele à merda e fechou a porta na cara dele. E jogou o disco na pilha de vinis na sala.

Uma semana depois, um cara cheio de sal e pimenta deu um disco do Wando pra ela, e nove meses depois nasceu o cara que escreve este texto.

Hoje tenho uma profunda gratidão por este imbecil que foi idiota o suficiente para dar um disco dos Beatles pra minha mãe. Mesmo jogando uma pérola à porca, mal sabia ele que o bacurinho ia fazer a festa!

Muita coisa aconteceu na minha vida depois que conheci o som dos Beatles. Mas, com certeza, dos meus seis até uns onze anos, este disco foi minha mais freqüente companhia.

Até que, por volta dos doze anos em diante, fiz outras amizades como Raul Seixas, Pink Floyd, Led Zeppelin, Nirvana, The Doors, Beavis and Butt Head, a literatura, a Playboy e a coletânea azul que traz a fase psicodélica dos Beatles; tornei-me um péssimo aluno na escola, deixei o cabelo crescer, beijei na boca (e otras cositas más) pela primeira vez e falava mais palavrão que a Dercy Gonçalves.

E como inauguração desta nova sessão de resenhas de discos no meu blog, nada mais justo que homenagear meus patriarcas no rock.

Beatles Forever!         

15 outubro 2010

Milagre Altruísta Vs. Curandeirismo Televisivo


Livro: Teologia dos Milagres de Jesus
Autor: João Ferreira Santos
Editora: JUERP
Páginas: 170

Se você for a qualquer dicionário e procurar a palavra milagre vai perceber que, seja qual for a definição, ela vai ter pelo menos dois sentidos:

1) Algo extraordinário, que transcende o mundo natural ou explicação lógico/científica;

e/ou  2) Algo que não acontece com frequência.

Indo propriamente para Jesus (afinal o livro trata diretamente dele) o que mais me chama a atenção no seu ministério é que, em momento algum, um milagre dele foi em benefício dele mesmo. Era sempre algo que trazia benefício para o outro, o próximo, e não para ele.

Outra coisa que também, particularmente, me comove ao pensar na vida de Jesus, era que seus milagres, principalmente curas, não tinha alvos (pessoas) baseado no padrão social. Era para todo aquele que cresse. O que abarca desde um fariseu radical, a um soldado romano, a gente de pouco (ou nenhum) status social, mulheres de má fama, ricos, pobres, etc.

E principalmente, nenhum de seus milagres foi feito com intenção de propaganda de sua missão. Servia, óbvio, para confirmação aqueles que já o seguiam à tempos e já percebiam, através de seu ensino, que ele era de fato divino, filho de Deus, como Jesus mesmo se auto intitulava.

Apesar disto, Jesus nunca fez destes sinais e curas propaganda para auto-promoção como um super star palestino. Ao contrário! Quando curava alguém, exortava veementemente para que os beneficiados não contassem à ninguém. E quando via que a multidão estava encantada pelos sinais e queria torná-lo um líder, Jesus, seja num sermão extremamente duro e desconsertante para quem ouvia, ou quando se retirava estrategicamente do meio da multidão e procurava a solidão dos montes, sempre dava um jeito de escapulir da aclamação popular.

Jesus não se interessava por isso. Ele queria ser aceito por aquilo que ele era, e não por aquilo que, potencialmente, ele podia proporcionar as pessoas.

E muita gente naquela época o procurava para se entreter vendo um mago fazendo sinais e milagres.

www.malvados.com.br

Ele sabia tanto que essa aclamação das massas era ilusória que, quando entrou em Jerusalém, foi aclamado como um rei em sua famosa entrada em Jerusalém, montado em cima de um jumentinho, com a multidão jogando ramos e túnicas em seu caminho e o chamando de rei. Jesus, ao perceber a empolgação dos discípulos por conta do aparente sucesso de seu mestre, logo jogou um balde de água fria soltando uma profecia perturbadora e sinistra sobre si mesmo:

Eis que estamos subindo a Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado.
Mateus 20: 18 - 19a   


Dito e feito! Poucos dias depois, a mesma multidão, em uníssono, gritava histericamente: -Crucifica-o! Crucifica-o!

Jesus, com toda sua sabedoria, sabia mais do que ninguém que, definitivamente, a voz do povo não é a voz de Deus.

Hoje vemos que (pelo menos para aqueles que regularmente vêem tv) há um sem número de programas tele-evangelisticos que alardoa, diariamente, muitas curas e milagres, propagando isso numa lógica mercadológica, tendo por intuito não dizer: - Deus é bom, olha o que Ele faz! e sim marquetear - Venha para cá, só aqui a coisa funciona e acontece!

Milagre, pelo próprio termo da palavra, já dá a idéia de ser uma coisa rara, uma exceção, e não uma regra. Se for regra deixa de ser milagre e passa a ser fenômeno, coisa comum.

Me dói o coração ver que, regra geral, as pessoas não procuram mais a espiritualidade como consequência de contemplação. Tampouco por uma sincera busca pela verdade. As pessoas não se questionam mais: - O quê faz sentido? Apenas se interessam por: - Isso funciona?

E daí esta grande avalanche de gurus, guias, pastores, apóstolos, padres, de todas as correntes religiosas e ideológicas, prontos para satisfazer o gosto do fiel/freguês.  

O que Jesus mais temia aconteceu nas gerações que o precederam. Gente falando dele (Jesus) apenas como um amuleto. Como se milagrosamente, ao optar por Jesus (leia-se: Jesus e a instituição que o ofereceu) as coisas começam a acontecer e os pÓbremas são sanados, e finalmente nosso bolso vai gozar da tão sonhada prosperidade!

Achei super interessante um trecho de um livro sobre catequese católica que eu li à pouco:

Urge anunciar Jesus Cristo liberto dos fundamentalismos que tentam aprisioná-lo como um milagreiro. Muitos buscam uma Igreja como a casa dos milagres, uma igreja de resultados que girem em torno de si mesma, que atenda perifericamente os pedidos, sem as preocupações do Reino.

E prossegue:

Uma iniciação cristã que traduza o ser cristão em atitudes de vida nos leva a um horizonte bem distante daquele traçado pela atual teologia da prosperidade, a qual atribui os males ao tentador e acentua as vantagens que a pessoa de fé desfruta: sucesso nos negócios, êxito nas relações amorosas, cura milagrosa de doenças e conforto espiritual.

O autor fecha com uma provocação louvável:

A iniciação cristã, particularmente na periferia das grandes cidades, enfrentará o desafio de confrontar-se com o posicionamento radical de uma fé de corte utilitarista.
(Trechos tirados do livro Catequese com Estilo Catecumenal de Antônio Francisco Lelo, ed. Paulus, pg. 12)

E lendo o livro Teologia dos Milagres de Jesus você, além de estudar todos os aspectos dos milagres como: o poder sobre a natureza, as curas físicas e as curas de caráter espiritual/psicológico; ainda estudará os conceitos e a historicidade.

Você se aprofundará em todos os milagres dos quatro evangelhos e ainda irá perceber que, em cada milagre de Jesus, existe um propósito dele de, especificamente, revelar algum aspecto do caráter de Deus.

Milagre, palavra esta tão misteriosa e fascinante, através da leitura deste livro, me levou a ver como Jesus era profundo, e como o cristianismo é superficial.

É, amigo Gandhi, você tinha razão...

Resumindo: Nem tudo o que reluz é ouro!

Boa leitura a todos!

p.s. - e por falar em cura, para edificação dos irmãos e irmãs, vejam o ungido vídeo abaixo:


10 outubro 2010

Há um passo do paraíso! Ou não.


Livro: Verdadeira Paz e Segurança
Subtítulo: Como Poderá Encontrá-la?
Autor: Vários
Editora: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados
Páginas: 189

A religião Testemunhas de Jeová foi fundada na década de 1870 por Charles Taze Russell na Pensilvânia (EUA).

Apesar da atuação, digamos, discreta, as Testemunhas de Jeová agrega mais de 7 milhões de seguidores em todo o mundo.

Segundo a Wikipédia, eles adicionam aproximadamente 5 mil membros a cada semana.

Entretanto, quando falei em atuação discreta, não estava sendo irônico. É discreta mesmo.

Basicamente eles tem o estilo de evangelização clássica de algumas seitas cristãs. O método do de porta em porta.

Se você mora ou morou em residências fora das muralhas de condomínios fechados, certamente já deve, pelo menos uma vez, ter recebido a visita de pessoas que confessam essa religião.

Charles Taze Russell
Testemunha nº 1

Eles tem algumas peculiaridades.

Se confessam como cristãos não-trinitários; por não aceitarem, ao contrário das ditas religiões cristãs oficiais, que Deus é três pessoas em um só (trindade seria o termo).

E, assim como as demais religiões, acreditam que só eles tem o monopólio da verdadeira interpretação e práticas da bíblia. Tanto que eles tem sua própria tradução da bíblia, por acreditar que as religiões desprezam o verdadeiro nome de Deus, que segundo eles tem o nome de Jeová. Daí o nome Testemunhas de Jeová.

Literalmente, se você for adaptar o nome de Deus, que está na bíblia hebraica, para as letras oficiais do ocidente, você vai ter um tetragrama de quatro consoantes desta forma que se segue:

YHVH

YHVH, na nossa língua, e até para um judeu ortodoxo, é praticamente impronunciável. Reza a lenda que os judeus levavam tão à sério o mandamento Não tomarás o nome de Deus em vão que, durante séculos, nenhum judeu ousava pronunciar o nome Dele. Daí a pronuncia se perdeu.

O nome Jeová é apenas uma destas tentativas de se traduzir o nome de Deus na linguagem ocidental. Claro que isso só foi possível depois de adicionar vogais ao tetragrama. Outras possibilidades de pronuncia seria Javé ou Iavé.

Os Testemunhas de Jeová sempre foram perseguidos em algumas culturas por tomarem posturas polêmicas devido a sua forma literal de interpretar e praticar a bíblia.

Dentre as práticas mais estranhas está a de não participar de lutas armadas, negar-se veementemente a doar ou receber transfusões de sangue, a não se posicionarem politicamente, dentre outras coisas.

- Eu vou beber seu saaaangue!!!
- Não pode moço! Eu sou uma Testemunha de jeová!

A escatologia (estudo das profecias na bíblia e seu cumprimento) das Testemunhas de Jeová também tem muitas diferenças na interpretação. E é sobre isso que trata boa parte do presente folhetim religioso Verdadeira paz e Segurança, que veio as minhas mãos (adivinha!?) numa destas visitas que eles fazem periodicamente nas casas, no caso, na minha casa.

Fica claro no livro (o que já era de se esperar) que a verdadeira paz e segurança só se alcança se houver por parte da pessoa uma auto entrega a Jeová de corpo e alma, acompanhado (obviamente) de toda instrução que os Testemunhas de Jeová tem a oferecer.

E para isso, no livro, eles usam até alguns argumentos retóricos razoáveis. Como o fato de nunca um governo humano ter conseguido plenamente estabelecer a paz e oferecer segurança a ninguém.

Eles encaram o mundo como uma causa perdida, e leva o leitor a pensar que só um reino estabelecido por Jeová é capaz de promover esse paraíso social.

No livro, eles falam que este mundo tal qual conhecemos e vivemos está fadado à destruição. Assim como na história de Sodoma e Gomorra (livro de Gênesis), Jeová vai esgotar sua infinita paciência, destruir tudo e recomeçar de novo. E todas as calamidades que ocorrem hoje como fome, guerras, epidemias, violência e desastres naturais são sinais de que esse Dia D está se aproximando.

Mas calma, não se desespere! Segundo o livro Verdadeira Paz e Segurança, um grupo de 144 mil sortudos irão sobreviver a todos estes cataclismas apocalípticos e, a partir deles, Deus (ou melhor, Jeová) irá estabelecer seu reino e a terra voltará a ser um paraíso.

Óbvio que estes 144 mil são Testemunhas de Jeová. Coincidência não!?

No livro, há gravuras sobre como vai ser esse paraíso. E é exatamente como o senso comum imagina. Muito verde, paisagem natural deslumbrante, e pessoas de todas as raças vivendo em plenitude e harmonia. Até os bichos vão viver assim. No livro, há gravuras de leões deitados numa linda grama ao lado de ovelhas. Crianças inocentemente brincando com serpentes, etc.

Paz total.

 O Paraíso...
Segundo As Testemunhas de Jeová e alguns grupos de vegetarianos radicais.

Então, resumidamente (parece piada diante do tamanho desta resenha) eles são um grupo, que como todos os outros grupos religiosos, acham que tem A Revelação e fazem de tudo para mostrar essa luz para as outras pessoas.

O louvável de tudo isso é que eles, no livro, não medem palavras. Deixam claro para as pessoas o que eles realmente pensam sobre os mais diversos assuntos como sexo antes do casamento, homossexualidade, bebidas alcoólicas, festas, sociedade, relacionamento homem e mulher etc. Eles tomam a postura do tipo - nós pensamos isso, agimos desta forma, aceita quem quiser!

Há alguns anos eu acharia um absurdo eles acharem que no mundo só se salvam 144 mil, de toda uma multidão de cristãos que existem.

Já hoje, devido a minha fase de total pessimismo quanto ao dito cristianismo que se pratica pelas diversas religiões espalhadas por este mundo afora, acho que 144 mil já é otimismo até demais.

Então, vamos ficar na torcida para que, mesmo Jeová estabelecendo que só 144 mil vão cair em suas graças, Ele possa ter um coração de mãe, onde sempre cabe mais um.

De qualquer forma, já comprei meu ventilador portátil, porque, segundo dizem os mesmos Testemunhas de Jeová, lá embaixo deve fazer um calor desgraçado.

E que Deus, ou Jeová, ou Iavé, Alá ou O Cara lá de Cima tenha um pingo de piedade de nós, pobres profanos.

Amém!

24 setembro 2010

Um clássico infanto-juvenil moderno



Livro: Harry Potter e a Pedra Filosofal
Autora: J. K. Rowling
Editora: Rocco
Páginas: 263

Harry Potter é, sem sombra de dúvida, um grande marco na literatura mundial. E nem preciso ir muito longe para demonstrar isso. Se você for na página de loggin do site skoob (site de relacionamento similar ao orkut cujo foco é a literatura - www.skoob.com.br) e ver a lista de mais lidos, vai perceber que Harry Potter e a Pedra Filosofal está no topo.

E se você ler as dezenas de resenhas no site Skoob sobre este livro, vai se assombrar pelos inúmeros testemunhos de pessoas dizendo que tomou gosto pela literatura depois de ler Harry Potter.

E isso é, no mínimo, curioso!

E realmente pude perceber o porquê.

A história é muito bem contada, você vai passando as páginas devorando cada frase. Eu mesmo li umas 150 páginas em uma sentada. E concluí o livro em menos de dois dias.

J. K. Rowling

Obviamente, não é o melhor livro que eu já li na vida. E sei que muita gente tem certo pré-conceito com ele por conta do forte apelo publicitário alimentada pela industria do entretenimento, e enorme giro de capital que está em torno da marca Harry Potter devido ao grande sucesso da série no cinema.

Mas, como dizem os mestres das obviedades: - Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa completamente diferente!

Então, recomendo Harry Potter e a Pedra Filosofal a todos os amantes da leitura. E acho que daqui a umas décadas essa série de livros vai ser tão lembrada quanto clássicos da literatura universal como O Senhor dos Anéis (estou falando de popularidade e não de qualidade ok!? Digo logo antes que eu seja julgado por blasfêmia), Crônicas de Nárnia, Alice no País das Maravilhas, etc.

Na foto, Harry Potter numa calourada da Grifinória

Não vejo à hora de me deleitar nos demais livros da série. Será que J.K. Rowling conseguirá manter o mesmo fôlego na narrativa? Veremos! 

Então, que todos vocês possam dar asas (ou vassouras) a imaginação e voar alto nas aventuras desta série, na companhia deste simpático aprendiz de bruxo.

Que foi?

Ainda não conseguiu sair do chão?

Então vou lhe dar uma mãozinha:

- Vingardium Leviosa!

E tenha uma ótima viagem!

20 setembro 2010

Liturgia, apenas... Ou, A Santíssima Burocracia.


Livro: Constituição Sacrosanctum Concilium Sobre a Sagrada Liturgia
Subtítulo: (Coleção A voz do papa) Concílio Ecumênico Vaticano II
Autor: Paulo Bispo, servo dos servos de Deus, juntamente com os padres do concílio para perpétua memória.
Editora: Paulinas
Páginas: 74

Não que eu esperasse mais deste livro do que o título propõe. Já sabia que se tratava apenas de um manual informativo sobre liturgia católica.

O presente manual foi feito após o Concílio Vaticano II, ocorrido entre 1961 e 1965.

Dentre tudo debatido neste período, um dos destaques foi a necessidade de adaptar a liturgia da igreja pensando nas mais diversas culturas e línguas.

Sendo que, de todas as medidas, o grande carro chefe de tudo foi, finalmente, eles perceberem que a liturgia missal deveria ser celebrada na lingua do país onde a missa é realizada (antes era celebrada em Latim).

Um avanço, sem sombra de dúvida.

Mas liturgia... Bem, esta palavra não me entra de jeito nenhum.

Claro que a liturgia cristã são atos simbólicos para relembrar os mais diversos feitos de Jesus. Acho historicamente legítimo. E até certo ponto, dependendo do grau de instrução das pessoas, tem lá seu caráter didático. 

Porém, não podemos comparar isto ao verdadeiro espírito livre e religiosamente rebelde que o Mestre carpinteiro de Nazaré propunha na época que veio.

Tanto que, um dos grandes motivos por ele (Jesus) ter sido brutalmente assassinado foi exatamente o fato de ir contra os dogmas litúrgicos que os judeus com tanto zelo defendiam.

Jesus pregava a espiritualidade livre, que podia ser encontrada em qualquer lugar; num bate papo informal com alguém que cruzava seu caminho; na solidão dos desertos e montes; na convivência com pessoas de todas as classes sociais, etc.

Jesus só foi umas três vezes ao templo de Jerusalém depois que iniciou seu ministério. Nas duas primeiras visitas quase foi apedrejado, na terceira o crucificaram.

Isso, no mínimo, quer dizer alguma coisa não é?

Ao que parece, Jesus e religiosidade não se batiam muito bem.

Dois mil anos depois, vemos as igrejas institucionais protestantes e católicas transformarem a mensagem de Jesus naquilo que ele mesmo combateu quando estava peregrinando por esta terra.

Ceia, batismos, confessar pecados, conversar com Deus, a oração do Pai Nosso, o Templo do Espírito sendo nossos corpos e não templos feitos por mãos humanas. Tudo isso transformado em rituais e símbolos litúrgicos novamente.

Quanto ao presente manual de liturgia, para quem é católico ou para quem quer conhecer mais sobre os mais diversos símbolos ritualísticos da celebração da missa, é recomendável ler para que, ao participar, você tenha pelo menos consciência daquilo que é representado nos ritos.

Para mim, esta leitura reforçou mais a idéia de que a religião, como um todo, mais burocratiza do que aproxima o homem à Deus.

Jesus, mais do que ninguém, sabia disto e proclamava esta verdade aos quatro ventos. E todos nós sabemos que fim ele e seus discípulos tiveram.

Paz a todos!

E o sincero desejo de menos religião e mais espiritualidade!

Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles.
Evangelho de Mateus 18:20

Assista o vídeo abaixo e veja porque eu amo religião: 



Relevem a ironia cretina...


*    *    *    *

Pessoal, meu grande amigo (e também blogueiro) André Rodrigres http://avidadentrodeumafantauva.blogspot.com/, além de escrever é também desenhista.

Ele homenageou meu blog com um desenho muito legal que faço questão de publicar aqui no Mundo Facundo! Me sinto honrado cara! Muito obrigado!

Abaixo, a homenagem do André ao blog Mundo Facundo:


Abraço a todos!

31 agosto 2010

Livro teen temperado com criatividade para leitores adeptos do virtual.



Livro: romeu@julieta.com.br
Autora: Telma Guimarães
Editora: Saraiva
Páginas: 79

O termo teen é usado para determinar humanos habitantes das zonas urbanas com idade entre 10 e 17 anos.

Este público específico é responsável por boa parte do que sai de capital ($$$) das carteiras dos humanos chamados adultos (período que geralmente começa após os 25 anos e termina num infarto fulminante em torno dos 70).

Na relação entre estas duas fases da vida dos humanos existe a chamada Indústria do Entretenimento, que tem por função vital induzir os teens a comprar um determinado produto num dia x e, obrigatoriamente, convencê-lo de que o produto é ultrapassado um mês depois.

Daí se forma a seguinte equação:

xd + 30d = ei mãããeeeeeee! Meu celular não filma em HD! Que drooooga! Quero celular que filma em HD!

O nome deste ciclo contínuo de adquirir algo e achá-lo descartável depois de um mês chama-se Consumo.

A principal arma da Indústria do Entretenimento para fazer os teens infernizarem a vida dos adultos chama-se Propaganda. A Propaganda usa de vários elementos para atingir seus obtivos. Dentre os quais se destacam: redes de televisão, rádios, eventos, propagandas urbanas, cinemas, mulheres gostosas trangênicas, e claro, não podemos esquecer o novo grande elemento desse time dos sonhos, a Internet!

p.s.-  sobre o parágrafo acima: a internet, assim como mulheres gostosas trangênicas, é veículo de comunicação de massa à tempos recentes (menos de 15 anos). Claro que a propaganda, desde os primórdios, usava mulheres. Mas ao contrário das trangênicas, elas eram só gostosas.

Abaixo, típico teen sobriamente interligado:



Continuando...

Diante deste bombardeio de informações e apelos com vida curta de um mês, onde ficam os livros?

Vou logo direto ao ponto porque estou aqui para comentar um livro.

Pelo menos é esta a proposta.

E toda esta baboseira pseudo-esclarecida que discorri no começo desta resenha é tão somente para perguntar:

Por que aqui no Brasil ler livros ainda é algo tão exótico, cult e diferente?

E o por quê que, para o europeu, por exemplo, ler é tão normal quanto jogar xadrez, transar, suicidar-se, beber cerveja quente, fazer necessidades fisiológicas, gostar de Franz Ferdinand ou manter a filha em cativeiro no porão de casa por 23 anos?

É verdade que muita gente tem o costume de ler. Porém, comparando a proporção de leitores junto a grande massa populacional brasileira, é ainda um número pequeno, o que coloca os adeptos da leitura na categoria de undergroud.

Diante disto atrevo-me a blasfemar o seguinte:

Os críticos podem descer o cacete em autores como Paulo Coelho, Rowling, Mayer e genéricos. Mas penso que as aventuras (em sua grande parte bem medíocres) da obra auto-ajuda-exotérica de Paulo Coelho, a série Crepúsculo e o imbatível Harry Potter, têm papel fundamental para, quem sabe, serem portas de iniciação dos teens ao maravilhoso mundo da leitura.

Digo isto porque sou um assíduo usuário (não voluntário!) de transporte público. E fico fascinado ao ver no busão a grande quantidade de adolescentes com estas obras em mãos indo para a escola.


Sobre isto não tenho mais nada a acrescentar...

*    *    *    *

E aqui oficialmente começo a resenha do livro romeu@julieta.com.br!

Voltando os olhos para nosso celeiro tupiniquim, tive o prazer de ter em minhas mãos um criativo livro da autora Telma Guimarães.

Criativo pelo fato dela retratar um pequeno recorte da vida de um típico teen chamado Romeu (apelido Meuzão com nick Mettallica) que, como todo carinha de sua idade, tem em sua rotina uma vida colegial e virtual muito movimentada; temperada a muita azaração e (óbvio!) o sonho de todo garoto desta idade em ter uma banda de rock. Afinal, quem nunca ficou ouvindo Led Zeppelin na sala de casa usando um cabo de vassoura como guitarra se sentindo o último Jimmy Page do deserto?

Telma Guimarães consegue retratar a narrativa intercalando o mundo virtual e real de Romeu. É divertidíssimo as janelas de bate-papo que ela criou ocupando os espaços das páginas do livro mostrando para o leitor como Romeu desenvolve suas relações virtualmente.

Telma Guimarães

Ressaltando que o livro é de 1998, naquela época o MIRC tava bombando; e a conexão ainda era pela linha telefônica. Ou seja, se alguém tirasse o telefone do gancho puf! a conexão caía.

Então, para caras como eu que era um semi-pós-adolescente em 98, a leitura trará muita nostalgia. Principalmente pelos tipos de programas descrito pela autora.

Devido a velocidade com que o mundo virtual se tranforma, a autora deveria a cada cinco anos reformular os termos técnicos do livro. Como por exemplo trocar a janela de bate-papo do MIRC por um Messenger.

Enfim, achei muito criativo o livro de Telma Guimarães. Ela conseguiu colocar no papel uma dinâmica de narrativa que tornou a leitura muito prazerosa. Você nem sente que está lendo!

E que mais autores brasileiros tenham coragem de escrever livros para este público específico.

Aliás, devem até ter bons autores no Brasil para este público. Eu é que sou um completo ignorante nesta categoria de escrita literária. Réu confesso! 

A todos uma boa leitura!

19 agosto 2010

O livro do mala feio (e sem alça!) do Malafaia



Livro: A Extraordinária Presença de Jesus
Autor: Silas Malafaia
Editora: Central Gospel
Páginas: 58  

Silas Malafaia, depois dos imbatíveis R.R. Soares e clã Universal, é a figura religiosa que mais aparece na tv aberta brasileira.

Mesmo estando em terceiro lugar na corrida, Malafaia é um dos pioneiros no chamado formato tele evangelístico no Brasil (devidamente importado dos EUA, tinha que ser!), estando no ar há mais de 28 anos.

O autor é também presidente da Editora Central Gospel, que dentre muitos ítens no catálogo, estão dvd's, cd´s gospel e também (para variar!) livros.

Heil Jesus!
Silas Malafaia, vida alienada nas madrugadas! 

Minha sogra, assim como milhares de zumbis espiritualóides no Brasil, é uma sócio mantenedora do sr. Malafaia. Mensalmente dá uma generosa quantia em dinheiro; e como gesto de profunda gratidão, a Central Gospel a presenteia com um livro por mês.

E ela, como toda sogra que se preze, vê em mim um encosto na vida da filha. Todo dia ela fervorosamente ora para que eu abra meu coração e adicione Jesus no meu Orkut! Além das orações, ela, mensalmente, me repassa os livros que ganha do ungido Malafaia.

Como leio até bula de remédio e manual de instruções de liquidificador, resolvi dar uma chance ao verborrágico pastor. Pelo menos o livro não cospe enquanto fala!

Ainda por cima, tenho o péssimo hábito de só julgar algo quando leio (e tenho Paulo Coelho como testemunha!).

E infelizmente, o meu pré-conceito tinha razão.

A Extraordinária Presença de Jesus é apenas um folheto evangelístico de 58 páginas.

Não há personalidade no texto. Nem o mínimo traço da ironia e explosão, tão presentes nas pregações televisivas do autor (ele é comparado por alguns como o Ratinho evangélico pela forma tia velha dando xilique com que leva seus sermões!).

Conteúdo evangélico de qualidade para toda família!

Além de fraco conteúdo, o livro é feito com papel de péssima qualidade. Pelo menos já dá para saber que o dinheiro da sogra não chega à gráfica da Central Gospel.

Então é aquela velha e já saturada auto-ajuda evangélica: Com Jesus a vida é próspera e sem pÓbRemas! Sem Jesus você vai ser espeto de carne com farofa e vinagrete no inferno!

Deprimente!

Enfim, se você é evangélico e gosta de Silas Malafaia (o que não é meu caso, prefiro o INRI Cristo!) recomendo que você invista nos dvd's!

Ou então, nem gaste seu rico dinheirinho; segure o sono até pouco mais de meia-noite e deleite-se com as inflamadas gritarias gasguitas (e devidamente salivadas!) do autor nas intermináveis madrugadas da Band.

E é só!

P.s. - é sogrinha, não foi desta vez! Amém!

10 agosto 2010

Mayday, Mayday!


Livro: Saber Viver
Subtítulo: Risco de Vida
Autor: Sancler P. Santos
Editora: Biologia & Saúde
Páginas: 62

Era uma vez...

Um garoto de 3 anos que, na cozinha de casa, teve uma irresistível atração pela panela no fogão que estava fervendo uma porção de mingau. Ele se esticou, encostou no cabo da panela e... Bem, como era de se esperar, a panela caiu; parte do mingau quente pegou o joelho direito da criança que gritou de dor.

A mãe, em desespero, não teve dúvidas para amenizar a dor da criança; trouxe do banheiro seu remedinho aprendido por instrução dos antepassados. Aplicou Colgate de menta por cima da queimadura.

Esse garoto era eu. E uma das imagens mais marcantes que eu tenho deste fatídico dia foi ver, já no pronto socorro, a cara de indignação do médico ao ter todo um trabalho para remover o creme dental já endurecido do meu joelho. A dor indescritível que senti na remoção do creme dental foi maior que a queimadura em si. E até hoje carrego no meu joelho direito uma mancha branca.

Era uma vez...

Num belo açude no interior cearense, muitas crianças tomando banho, e algumas bem afoitas resolveram ir mais fundo. Uma delas se afogou. As outras crianças, amigos do afogado, gritaram por socorro. Imediatamente um adulto pulou na água e resgatou a criança afogada.

Colocaram a criança estendida na beira do açude e, pasmem, nenhum adulto presente fazia idéia do que fazer numa situação daquela. Até que alguém, num raciocinio digno de um cidadão de Lisboa, teve uma idéia brilhante e disse: Ora pois, se colocar a criança de cabeça para baixo, a água naturalmente vai descer pela boca!

A criança morreu. Se chamava Roberto (betinho) e era um de meus amigos de infância. E eu fui um dos  afoitos que entrou no açude com ele naquele dia.

Era uma vez...

Uma garota linda, universitária, que foi atropelada na calçada de uma avenida em Fortaleza por um motorista bêbado que perdeu o controle do carro. Algumas pessoas, no desespero, a socorreram imprudentemente e a colocaram dentro de um carro para deslocá-la ao hospital.

Hoje ela é paraplégica.

O curioso é que ela ficou assim não por conta do atropelamento em si, mas por ter a coluna rompida quando as pessoas imprudentemente mexeram no pescoço dela na agonia de socorrê-la. Se tivessem deixado o corpo intacto até os paramédicos chegarem, ela certamente estaria andando. O caso desta garota eu vi no jornal semana passada.

Era uma vez...

Um adolescente que se aventurou a subir numa serra com amigos. Esse lugar era muito distante da cidade. Ele caiu numa ribanceira e teve uma das coxas penetrada por um galho de árvore. Os amigos não tiveram dúvida, removeram o galho da coxa do rapaz. Ao remover o galho, uma artéria foi rompida, e isto o fez perder sangue rapidamente. Morreu poucas horas depois.

Agora a pergunta que vale 1 milhão de dólares!

O que estas quatro histórias têm em comum?

Resposta:

Se as pessoas que estavam perto das vítimas tivessem noções mínimas de procedimentos em primeiros socorros, o final destas histórias certamente não seriam tão trágicas!

Você sabia, por exemplo, que os acidentes domésticos são responsáveis por 1/4 da totalidade de acidentes mortais no mundo?

Certamente muitas mortes seriam evitadas se tivéssemos uma preparação básica de segurança preventiva e aplicação em primeiros socorros.


Este manual chamado Risco de Vida me chamou a atenção quanto a isso. Abriu meus olhos para perceber o quão sou ignorante e despreparado. Me fez ainda lembrar o quanto eu e pessoas queridas ao redor de mim estão constantemente expostas a riscos o tempo todo.

Óbvio que isto não deve necessariamente criar em nós uma paranóia. Ao contrário! O medo não é algo que existe para nos privar de vivenciar nossas experiências. O medo serve para nos dar prudência. É um aliado natural do nosso corpo. É o que me faz pensar que, os procedimentos que eu tomo entre o momento que ocorre um acidente e a chegada do socorro profissional pode fazer toda diferença entre a vida e a morte de alguém.

O manual Risco de Vida me ensinou um sem número de aplicações básicas que qualquer pessoa pode fazer. Você não precisa ser um Dr. House ou um salva-vidas saradão do S.O.S Malibu para dar a mínima assistência a um acidentado. E a gama de possibilidade são muitas: fraturas por quedas ou acidentes automobilísticos; picadas de animais peçonhentos; insolação; queimadura; ataques respiratórios ou epilépticos; afogamentos; cortes profundos; e por aí vai.


                  Quem disse que tenho que ser esse cara para salvar alguém?

Enfim, não digo que virei um especialista em primeiros socorros depois da leitura dessa instrutiva cartilha, mas aprendi bastante coisa. E pretendo aprofundar ainda mais meus conhecimentos nesta área. A vida é muito preciosa, e se por acaso acontecer alguma merda (até porque merdas acontecem o tempo todo) eu não queria ficar desesperado, impotente com a mão na cabeça sem saber o que fazer.

Pretendo (e recomendo a você) procurar algum corpo de bombeiros local para me informar sobre cursos básicos em primeiros socorros.

 Procure cursos sobre primeiros socorros num corpo de bombeiros perto de você!

E se eu encontrar algum político influente, certamente irei sugerir a idéia de tornar o tema Primeiros Socorros obrigatório em pelo menos uma das etapas do ensino fundamental ou médio.

E quanto à cartilha Risco de Vida, achei muito boa e com ótimas (e fortes) ilustrações. Mas asseguro-lhe que você encontrará bastante dificuldade para encontrá-lo à venda na praça. Certamente você encontrará outros livros com este tema. Na Internet por exemplo tem uma tonelada de manuais para você baixar.

Mais do que uma recomendação, faço desta resenha um apelo para que você pondere a possibilidade de dar uma lida sobre esse tema. Até porque sabe-se lá Deus se de repente eu possa sofrer algum tipo de acidente. E sinceramente, gostaria de encontrar alguém minimamente preparado para me socorrer.

E esse herói pode ser você, ó prudente leitor.

E que Deus nos proteja!      

p.s. - Semana passada eu conheci um fotógrafo especialista em sobrevivência na selva que me ensinou, dentre muitas coisas, a como se fazer uma fogueira usando um O.B. e como usar areia de formigueiro como repelente natural contra insetos. Vou garimpar o quanto antes livros sobre este tema! Logo logo vai ter resenha sobre isso!

21 julho 2010

Loucura para clarear o intelecto!






Livro: Dom Quixote
Subtítulo: Livro Primeiro e Livro Segundo (Coleção L&PM POCKET, vol. 400 e 401)
Autor: Miguel de Cervantes Saavedra (1547 - 1616)
Editora: L&PM POCKET
Páginas: vol. 400 (511p) / vol. 401 (518p) 

Gostei do livro.

Mas você corre o risco de não gostar dele de cara. Tem que ter perseverança. Porque Cervantes lhe ganha pela convivência.

Ainda mais se você leu a mesma edição que eu, da L&PM POCKET, em dois volumes, somando os dois livros quase mil páginas.

Sugiro que você dê ao livro um crédito de pelo menos 150 páginas. Se ainda assim ele não lhe seduzir, esqueça! Doe o livro para uma biblioteca pública perto de sua casa, e alugue um bom filme para desopilar.


Miguel de Cervantes
Avô do Monty Python 

Dom Quixote trata de um cara viciado em literatura de cavalaria, que depois de tanto ler esse gênero literário, pira o cabeção achando que é de fato um cavaleiro andante. Daí resolve sair pelo mundo atrás de aventuras (e desventuras) dignas de serem contadas! Sem esquecer que nesta jornada ele tem como companhia um escudeiro (tão doido quanto) chamado Sancho Pança.

Dom Quixote daria uma ótima série de tv (com várias temporadas), pois em quase todos os capítulos existem uma mini aventura. E acredite, Dom Quixote tem muitos capítulos!

À medida que você avança na leitura, pode sentir uma leve sensação de tédio. Mas não se preocupe, quando o tempo de leitura corre mais um pouco, você se vê como que acostumado com a companhia do livro e ele entra na sua rotina, se torna parte de você. (relevem o exagero!)

Demorei torno de um mês para concluir a leitura. E agora, estou aqui, às traças e órfão, com saudades do nobre cavaleiro e seu inseparável escudeiro.

Nem vou entrar no mérito da importância histórica do famoso folhetim de Cervantes. Para isto você tem o bom sabe tudo tio Wiki.

Se você é daqueles que, ao se deparar com um grosso volume de um clássico da literatura, já sente aquele calafrio na espinha pensando que, além da grossura, ainda vai ter que encarar uma linguagem difícil (para os cult's leia-se: linguagem sofisticada ou clássica), não se desanime, ó desocupado leitor. É normal! Você não tem do que se envergonhar. Há outras formas de você entender o personagem Dom Quixote sem necessariamente ter que ler os dois volumes do livro.

Uma delas é assintindo ao filme Don Juan DeMarco; com atuação bem convincente e marcantes de Jonny Deep e Marlon Brando.


Tá com preguiça de ler Dom Quixote?
Sem problema! 
Veja este filme!

Ou, se você quer uma coisa mais na real, acesse o Youtube e veja todas as entrevistas e participações em programas de tv do INRI Cristo, que, a meu ver, é um ótimo exemplar de um verdadeiro Dom Quixote dos nossos loucos tempos. E que, ainda por cima,  consegue ter uma legião de Sanchos Pança seguindo ele.

INRI Cristo!
Um Típico Dom Quixote Contemporâneo! 

Isso tudo, tomando um bom vinho vagabundo ao som de Balada do Louco dos Mutantes!

Então, para todos os loucos de plantão, o meu sincero lero lero lero!

E claro, boa leitura! Sempre!

Bônus Track: Balada do Louco (Os Mutantes)

17 julho 2010

A doce vingança da amarga Medéia


Livro: Medéia
Autor: Eurípedes ( 484 a.C. - 406 a.C.)
Editora: Martin Claret
Páginas: 109

Medéia e Jasão são aquele casal de vilães típico das novelas globais. Um casal que, como se costuma dizer aqui no nordeste, não são flor que se cheire.

Tanto que, depois de aprontarem todas (leia-se: traições, conspirações e assassinatos), foram expulsos de seu país de origem, fugindo para o exílio na cidade de Corinto, levando consigo apenas seus dois filhos.

Acontece que Medéia se vê trocada pela deliciosa filha do rei de Corinto. Como se já não bastasse, ainda foi convidada a, junto com os filhos, deixar a cidade de mala e cuia. Isto para que Jasão pudesse usufruir de tudo do bom e do melhor que as boas graças do rei e o fogoso leito da princesa poderiam lhe dar; sem ter o incômodo de ter uma ex-mulher lhe torrando a paciência.

Típico não!?

Eurípedes
Já fazendo jorrar sangue pelos areópagos gregos muito antes do Tarantino vir ao mundo!

Medéia então, com seu instinto feminino tomado por uma fúria incontrolável, junto a todas as forças hediondas de muitas tpm's somadas, resolve não levar desaforo para casa (leia-se: para outro exílio) e decide por acabar (expressão bem comum usada por mulheres furiosas) com a raça do pobre canalha desafortunado Jasão.

A personagem Medéia é de fazer a vingativa Beatrix Kiddo (Kill Bill vol. 1 e 2), a Flora (vilã da novela A Favorita) e Suzane von Richthofen (burguesinha paulista assassina dos pais) ficarem parecendo a Madre Teresa de Calcutá.

E, ao contrário das vilãs citadas, Medéia não é levada a sua sanguinolenta vingança por motivos de busca do poder (Flora), nem dinheiro (Suzane), tampouco a vingança pela filha morta (Beatrix). Medéia é movida pelos motivos mais primitivos do universo feminino:

Um leito desonrado!

Susane Von Richthofen
Comparada a Medéia, ela é a nora que toda mãe sonha ter!

Até que ponto uma mulher é capaz de chegar para fazer o seu marido infiel pagar caro por tê-la traído e abandonado?

É um livro perfeito para a namorada ou esposa desconfiada presentear o parceiro como uma forma de aviso prévio.

Para os cuecas de plantão, o livro pode ser extremamente instrutivo para que se possa perceber como a mulherada tem essa capacidade de ir da doce ternura (amor!) a um azedume vingativo (ódio!) num piscar de olhos.

Toda mulher é potencialmente uma Medéia, quando devidamente estimuladas pela nossa incurável canalhice; salvo, claro, as devidas proporções emocionais de cada uma.

Enfim, para todos uma ótima leitura, ou vingança, sei lá!

15 julho 2010

Uma aula sobre Jesus e seu legado histórico.


Livro: O Incomparável Cristo
Autor: John Stott
Editora: ABU (Aliança Bíblica Universitária)
Páginas: 250

John Stott, de forma clara e enxuta, escreve como poucos sobre a sinergia entre teologia, espiritualidade e cristianismo.

O autor sempre busca ter precisão e coerência doutrinária, de forma que agrade tanto o leitor leigo, quanto ao cristão já devidamente doutrinado por uma igreja protestante de tradição histórica.

Stott não complica, tampouco polemiza. Sua motivação, de forma sóbria e centrada, é esclarecer o leitor.

Isto o torna um dos teólogos ingleses mais respeitados e consistentes do século XX.

As dezenas de livros do autor sempre estiveram nas boas graças de boa parte dos acadêmicos da área de teologia. Sem contar as igrejas; mais precisamente as igrejas históricas como batistas, anglicanas, luteranas e presbiterianas.

O livro O incomparável Cristo é baseado em uma série de palestras ministradas por ele na Igreja de All Souls (em Londres), na virada do milênio. Ele falou sobre a pessoa de Jesus Cristo; sua importância e relevância para os dias de hoje, mesmo passados dois mil anos.

Particularmente, o que mais me fascina no autor é que ele, declaradamente, é um conservador (no sentido menos pejorativo da palavra). E  assim como o velho São Paulo, ele consegue ser como aquele velho xamã indígena, cheio de sabedoria, que faz esquecer a complexidade dos vícios relativistas, e remete o pensamento de volta a fascinante e encantadora simplicidade dos evangelhos.

                                          John Stott


Porém, atenção!

Ele procura ser claro e preciso, mas nem sempre consegue ser aquele escritor que tem aquele apelo de, página após página, seduzir o leitor (a exemplo de Lewis, Yancey, Lucado e cia).

Você deve encarar o livro como uma aula, pois Stott é muito didático.

E é recomendável ter uma bíblia por perto, pois dela extrai várias citações.

O livro divide-se em quatro partes:

1) O Jesus original

Onde Stott explora, sem meias verdades, como o Novo Testamento retrata Jesus.

2) O Jesus eclesiástico

Nesta sessão ele avalia as diferentes formas de como Jesus foi representado através de toda a história; viajando dos primeiros séculos do cristianismo até hoje.

3) O Jesus Influente

Depois de explorar as formas como Jesus foi representado nas mais diversas fases e movimentos da história da igreja, ele agora mostra como a vida e os ensinos de Jesus Cristo impactaram indivíduos que conseguiram mudar a realidade deles mesmos e das pessoas que os rodeavam.

Dentre as várias personalidades citadas estão Francisco de Assis, Leon Tolstoi, Gandhi, Madre Teresa e Luther King.

"Não conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos." (Mahatma Gandhi)


4) O Jesus eterno

Esta foi a parte que eu menos gostei.

Aqui, Stott explora os 22 capítulos do Livro de Apocalipse.

Ele defende que, no Livro de Apocalipse, o Espírito Santo através de São João, queria retratar Jesus e a igreja numa amplitude cósmica.

Por ser repleta de simbologia, o Livro do Apocalipse (ou Revelação) é de difícil compreensão. Além de dar margem a muitas controvérsias e interpretações bizarras.

São João, muito antes do festival de Woodstock, já recebendo inspiração (e instrução) para escrever o psicodélico Livro do Apocalipse.

Na sua forma britanicamente polida, Stott bem que tentou; conceituou as interpretações básicas das igrejas históricas (o que para um leigo deve ser fascinante). Mas a mim (já caduco de ir a igreja) não trouxe grandes novidades.

Gostei quando ele desmistifica alguns fragmentos ditos apocalípticos (leia-se proféticos) mostrando que, ao invés de prever o que ia acontecer no futuro, o Livro de Apocalipse falava diretamente para as igrejas perseguidas daquela época. E que tinha a intenção de, subliminarmente,  conscientizar aquela geração de cristãos perseguidos que Deus, apesar da sangrenta e implacável investida do Império Romano, não esqueceu de seus filhos. São João, ao escrever o Livro de Apocalipse, encoraja a igreja para que, mesmo diante da certeza da morte por execução por parte das legiões romanas, tivessem, para consolo de suas almas, a certeza da redenção; que a vida do cristão transcendia a temporalidade terrena; e que o sofrimento, nem de longe, se compara a maravilha de desfrutar a eternidade na glória, também chamado céu, paraíso, etc.

Então, caro leitor, recomendo O incomparável Cristo de John Stott a você que têm o desejo de aprimorar os conhecimentos sobre diversos aspectos de tudo o que possa representar a pessoa de Jesus Cristo.

Então, ao invés de desejar boa leitura, termino com uma saudação mais apropriada para quem lê John Stott:

Bons estudos!

12 julho 2010

Não Gostei!


Livro: Histórias Extraordinárias
Autor: Edgar Allan Poe (1809 - 1849)
Editora: Globo
Páginas: 254

E digo o porquê.

Histórias Extraordinárias é uma compilação de contos de mistério do consagrado escritor Edgar Allan Poe. Este americano é um dos pais da chamada literatura de ficção científica e fantástica modernas.

Não sou nenhum crítico profissional de literatura, menos ainda um intelectual de primeira. Longe disso. Sou um mero leigo que, quando lê, tem como únicas sensações o fato de  gostar ou não.

Histórias extraordinárias é, de fato, incrivelmente bem escrito. Talvez, para o leitor da época, acostumado com aquele tipo de linguagem, devia ser, pela forma como ele escreve, uma coleção de contos muito, no mínimo, fascinantes.

O cara é famoso, e certamente influenciou um sem número de outros escritores após ele.


                                          Edgar Allan Poe

Mas para mim, já contaminado com a linguagem cinematográfica e com escritos de suspense do Stephen King, achei Edgar Allan Poe cansativo.

Não gosto de autores descritivos demais. Como descrever que tipo de formato o vapor que a xícara com café quente produz enquanto os personagens conversam. Ou as descrições minuciosas dos móveis e objetos da casa. 

Tá, eu sei, Stephen King também é assim e eu adoro ele. Mas por vezes Edgar Allan Poe torna isso um exercício quase insuportável.

Para não ser de um todo injusto e ranzinza, teve alguns contos desta compilação que eu gostei. Aliás, poderia até mesmo usar este espaço para comentar conto por conto. Mas não vou fazer.

Alguns contos me cativaram, mas não de forma surpreendente. Foi algo do tipo - Há tá, saquei! entendem?

Mas, quem sabe, este tipo de escrita seja por demais sofisticado para um cara como eu. Quem sabe a experiência seja diferente para você. Sei lá.

Então vou tomar a liberdade de afirmar que não gostei. E dizer que, se você quer ler um livro de suspense, por puro entretenimento, que lhe instigue a imaginação (por que essa foi minha expectativa diante deste livro), eu não recomendo Histórias Extraordinárias para você.

Mas esta foi a única obra que li dele.

Afirmo isso antes que você proteste dizendo que eu não li a obra toda dele. Fique à vontade para indicar outro trabalho dele, que eu procurarei ler com todo o prazer. Até porquê, sou daqueles que acreditam piamente que nem sempre a primeira impressão é a que fica.

Paulo Coelho que o diga.

Aguardo sugestões!