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03 junho 2009

Uma Disputa Mentirosa em Trapiá...


... ou "A INACREDITÁVEL DISPUTA ENTRE O INVENCÍVEL METIDO A BESTA LOLÔ E O VERBORRÁGICO TAMPA DE CRUSH CAPETA PARA SABER QUEM É O CABRA MAIS MINTIROSO DO MUNDO... E QUE DEIXOU DEUS PUTO DA VIDA!"


Num lugarejo longínquo
Chamado Trapiá
No véi Rio Grande do Norte
Onde Lampião cansou de aprontá

Aconteceu uma disputa
De dois cabra valente
Eles só usaram a cuca
Disputa bonita, inteligente

Acontece que Lolô
Um ilustre de Trapiá
Deixou o capeta furioso
E sobre isso vou lhes contá

Capeta ficou sabendo
Que de Assú a Mossoró
Num tinha ninguém como Lolô
Mintiroso que só

Lolô ainda disse
Pro espanto da nação
Que tava pra ver cabra mais mintiroso
Que ele em todo sertão

Então alguém lhe disse:
“- Lolô tua coragem me admira
Mas sinto dizer que chegaste tarde
Porque é o capeta o pai da mentira”

O baitinga do Lolô num tomou conhecimento
Do poder do capeta de mentir aos quatro vento
E deu as cara a desafiá num tom de zombação:
“- Mente mais do que eu da onde chifrudo fí do cão...!?”

O capeta ficou sabendo
E chegou no assovio
Cara a cara com o Lolô
Aceitando o desafio

É disputa de esperteza
Pois mentir né fácil não
Tem que falar com certeza
Gerar admiração

Pois mentira bem contada
Faz o cabra até babar
Pois apesar de absurso
Você acha bonito e quer até acreditar

Mininu a coisa foi feia
Que como diria minha avó
É história de fazer tremer nas beira
E arrupiá os cabelos do fiofó

Capeta abriu a boca
Com um bafo de catinga
Falando pra Lolô:
“- O que tu fala num vinga!”

“- Lolô tu é gaiato
Metido a sabido
Tem resposta pra tudo
Atazana meu ouvido”

“- Pensa logo que tu
Zé doidim de trapiá
Se acha tão esperto
A ponto de me peitar?”

“- Tira a catinga do mijo
Dentuço atrevido
Tu num era nem nascido
E eu já mentia nos ouvido”

“- Desde Adão e Eva
Minha mentira tem efeito
Influencio rico e pobre
E até discurso de prefeito”

“- Tu pensa que é assim galego?
Tu é esperto mais nem tanto
Te desafio agora mesmo
E ai? Continua? Ou vai mijar de espanto?”

Lolô num se intimida
Fica rindo todo farceiro
Ele disse: “- Fale baixo!
Ta pensando que sou seu pariceiro?”

“- Tampa de crush tome atendo
Nas coisa que vou falá
Minha boca é como coice de jumento
Meto a resposta no mei dos teus peito que até te falta ar!”

“- Então deixe de conversa
Capeta fi duma cabra
E comece logo e sem arrudeio
A contar tua mentira deslavada”

O capeta se aprontou
E num tom de excelência
Recitou sua mentira
Todo nobre e com eloqüência

“- Lolô vou te contar
Com muita emoção
A história da jumenta
Do profeta Balaão”

“- A jumenta no caminho
Deu de besta a falar
Balaão ficou espantado
quase a se cagar”

“- Mal sabia o profeta
E nem podia desconfiar
Que na verdade eu que ensinei a jumenta
Os fundamentos do bê-a-bá

Lolô ouvindo a história
Não pôde se aguentar
O hômi desatou a rir
E pro capeta foi retrucá

“- Tampa de crush que besteira
Tu é muito é abestado
Tu só ensinou o bê-a-bá
Só mais eu que tô orientando ela no mestrado!”

Diante disso Deus
Chocado com tanta mentira
Desceu logo lá do céu
Com os anjos em comitiva

Capeta e Lolô
Nem acreditaram
Tavam diante de Deus
E nem um dos dois falaram

Deus falou: “- Comé que pode
Seus bando de papangú
Vou dizer umas verdades bem boas
Pra tú e pra tú”

“- Comé que ocês
Tão empolgados em mentir
Enquanto no mundo à coisas tão lindas
E tudo de verdade, sem nada omitir”

“- Se ocês tivessem um pingo
Da mais simples contemplação
Iam ver que não há mentira no mundo
Mais bonita que a verdade verdadeira da criação”

“- Olhem só a mata verde
E os passarinhos à cantar
E o forrózim maravilhoso
Do povo de Trapiá”

“- Diante de tanta beleza
Só há uma coisa procês fazer
É botar joelhinho no chão
E com o coração agradecer”

“- Se quiserem Me encontrar
Perceber Minha grandeza
Abram o coração! Olhem Trapiá!
E Me adorem contemplando a natureza”

Lolô e o capeta
Quase chorando de tanta emoção
Se calaram com profundeza
Em completa adoração!

FIM

George Facundo

Flores Frívolas No Jardim Da Sacanagem




Meu Deus
Como sou imbecil
Imbecil sim
E ainda por cima cego
Isso mesmo
Sou cego também
Num mundo de cegos
Onde quem tem um olho é míope
Aí lascou

Nada não neguim
O negócio é curtir
Vamu curtir
Chegou o momento
É época do pão e circo
Ops...
Quer dizer
É época de carnaval!
O samba no pé
A lôra gelada na mão
E a morena quente no colo do alemão
Solta o pancadão meu irmão

Cadê o grito da galera???

Hêêêêê!!!

E a moçada cai na folia!

Hêêêêê!!!!

Olha a goma!!!

Hêêêêê!!!
Olha o confete!!!
Hêêêêê!!!
Olha o lança perfume!!!
Hêêêêê!!!
Olha o tráfico de drogas lucrando alto!!!
Hêêêêê!!!
Olha os gringos comendo a criançada!!!
Hêêêêê!!!
Olha a Aids!!!
Hêêêêê!!!
Olha os filhos que não voltam pra casa!!!
Hêêêêê!!!
Olha um monte de mães chorando!!!
Hêêêêê!!!
Olha o sorriso amarelo!!!
Hêêêêê!!!
Olha a folia da solidão coletiva!!!
Hêêêêê!!!
Olha o pessoal cagando pro que eu tô falando!!!
Hêêêêê!!!
Olha o Hêêêêê!!!
Hêêêêê!!!

- Estamos ao vivo do meio da folia pra todo o Brasil... Tem um folião aqui e vou conversar com ele! E aí amigo? Que tá achando da festa?
- Sóóóóóóóóó...
- Muita mulher bonita?
- Sóóóóóóóóó...
- O que você tem a dizer pra quem tá em casa?
- "?"

... passaram-se alguns segundos, afinal de contas a pergunta foi muito complexa... o folião enfim responde... e a produtiva entrevista continuou...


- Sóóóóóóóóó...

- Veio com a turma ou sozinho?
- Sóóóóóóóóó...
- E como você se sente curtindo essa folia sozinho no meio desse mar de gente?

... a resposta? adivinha!?


- Sóóóóóóóóó...


Mas tem essa não
Vamos pra folia meu irmão
E tôme pancadão
É tempo de folia
É tempo de curtição
Tá todo mundo convidado
Pro bloco da solidão

... a folia de pessoas que fingem a pseudo-felicidade e o vazio contentamento de achar (fingir?) que tem tudo não tendo absolutamente nada...

Imbecil
É isso que sou

Por quê?
Por quê meu Deus?
Como fui deixar acontecer?

Escapou por entre meus dedos
Nunca mais vou vêla
Nunca mais
Nem na vida
Nem no carnaval
Nunca mais

Ela

Um lindo rosto
Perdido na multidão

Adeus

Mas tem essa não
A fila anda mah
Levanda a cabeça
E vamos
Vamos pro baile de máscaras
Basta sair de casa e verá
Em meio a tempestades de goma
E o brilhar de confetes
O carnaval das vaidades e ostentações

Eu desisto
Não luto mais
Me entrego
Vou ao baile de máscaras

Ponho a máscara da felicidade
E mergulho no mar de sorrisos falsos
Eu sou um gênio
Felicidade
Minha melhor fantasia

E quando o bloco passa
De repente tudo perde a graça
Foi tão rápido
Nem percebi
O tempo não perde tempo

E volto pra casa na quarta
Com a alma em cinzas

E é com muito pesar que tiro minha máscara
Finalmente
Ai que dor

Contemplo meu rosto no espelho
E pra minha triste surpresa
Percebo que não tenho rosto
Tudo o que vejo é um imenso vazio
O nada

Mas tem nada não
Ainda bem que máscaras é o que não me falta
E pra ocasiões assim tenho uma perfeita
Uma máscara que particularmente não gosto
Mas faz-se necessária nesse exato momento

Ponho a máscara da rotina
E sigo o enfadonho bloco do cotidiano

Qualquer coisa é melhor que ser vazio
Longe de mim ser o que sou
Sou o que não sou

Viva as máscaras!!!
Hêêêêêê!!!

É melhor assim
Acredite

Tá triste?
Infeliz?
Sozinho?
Amargo?
A cabeça dói?

Eu te pergunto:

Quem se importa?


Eis a realidade!
Ninguém se importa camarada!

Uma solução?

Simples

Finja!!!

É melhor fingir

Fingir que não é amargo
Fingir que acredita
Fingir que se importa
Fingir que é interessante
Fingir que é feliz

Fingir


Entendeu?

Entendeu mesmo?


Então meus parabéns!!!

E adeus


E pra não perder o costume
Um último brado pra comemorar o fato de não ter o que comemorar
Então lá vai
Todo mundo junto
No três
1
2
3

Hêêêêêêêê...

"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor"

Trecho da canção "A Banda" de Chico Buarque de Holanda

E LEMBRE-SE:

"Todo carnaval tem seu fim..."
(Marcelo Camelo)

P.S.- A trilha sonora do meu carnaval?
"O bloco do eu sozinho"(Los Hermanos)

George Facundo

Sejam bem-vindos à Casa de Alice...

...porém cuidado; você pode não se sentir à vontade.





Alice é uma mulher na altura de seus 40 anos, manicure, que levanta cedo, ônibus, trabalho, ônibus, casa. Alice mora com o marido (Lindomar), os três filhos (Lucas, Edinho e Junior) no pequeno apartamento no subúrbio de São Paulo que pertence a sua idosa mãe (Dona Jacira) que diariamente acorda, lava, passa roupa, cozinha, arruma a casa e dorme... e acorda, lava, passa roupa, cozinha, arruma a casa e dorme... e acorda, lava, passa roupa, cozinha... e vez por outra têm sérios problemas no coração e é afligida por um probleminha de catarata, que tenta, com um esforço comovente, disfarçar. "Já viu o preço do colírio?"
Alice e Lindomar estão casados à vinte anos. Lindomar é taxista, e dentre outras coisas, gosta de tomar uma cervejinha com os amigos e transar com ninfetas. Lucas, Edinho e Junior são os filhos do casal, com idade entre 16 à 25 anos. Garotos que, como todos os filhos da classe média baixa de qualquer lugar, têm seus próprios sub-mundos e segredinhos mórbidos.

Esse enredo é do premiado filme "A Casa de Alice" (Brasil-2007), um drama que se passa no subúrbio de São Paulo.

Você deve estar pensando: o que têm de mais? É apenas a realidade!

Pois muito bem caro leitor...

Rita é uma mulher trabalhadora, têm por volta de seus 40 e poucos anos. Funcionária pública mal remunerada, tenta compensar o baixo salário sendo "galega" nas horas vagas. Pobre Rita! Acorda, ônibus, trabalho, ônibus, mais trabalho, ônibus, casa... e acorda, ônibus, trabalho, ônibus, mais trabalho, casa... e ônibus, trabalho, ônibus... e têm, devido ao extresse cotidiano, sérios problemas de pressão baixa, colesterol elevadíssimo, tirando as pitadinhas de depressão. Rita têm dois filhos; George(26) e Thaís(16) que, "como todos os filhos da classe média baixa de qualquer lugar, têm seus próprios sub-mundos e segredinhos mórbidos".

Rita namora Wando, mecânico, com o qual mantém uma relação de dependência, mas que no entanto nunca a satisfaz por completo. Wando é um homem que entrou na vida de Rita com uma bagagem (enrolado com a ex-mulher e dois filhos apegadíssimos ao pai). Rita sofre por perceber que, entre históricos de ex-mulher e dois filhos apegadíssimos ao pai, ela, em uma porcentagem justa, talvez tenha do Wando algo em torno de 8,3% de atenção. Pobre Rita, cobra do pobre Wando um preço alto, do qual ele nunca vai poder pagar.

O filho mais velho de Rita chama-se George (26), ela por toda a vida, de uma forma desesperadamente auto-sacrificial, investiu 110% de si para proporcionar ao pobre garoto sem pai a melhor educação que ela poderia dar, colocando-o em bons colégios e sempre dando a ele um relativo conforto.
Pobre Rita, não imaginava que seu filho ia se tornar um garoto acomodado que ia desperdiçar todas as chances (e boas chances) de se dar bem na vida. Pobre Rita, viu escoar pelo ralo a possibilidade do filho prosperar, proporcionando a sua pobre e sofrida mãe um mínimo de conforto em sua quase velhice. Pobre Rita! Pobre Rita!
George, como todo bom cara-de-pau mimado, tornou-se um parasita, sugando de sua miserável mãe o que ela tinha (e não tinha) para satisfazer seus mais insanos e irracionais caprichos.
George percebeu (ao menos isso...) sua triste condição às portas de completar seus 26 anos. Tenta correr atrás do prejuízo, mas o tempo é cruel. Será que consegue? Difícil.
Que Deus o ajude!

Sua filha mais nova se chama Thaís(16)... não, não me atrevo...

Isso não é outro filme...

É minha vida!

Sou, por natureza, um grande pessimista! Penso que, devido a minha própria condição, sempre tive predileção por livros e filmes que retratassem a desesperança. Porque, pra ser sincero, é mais fácil acreditar nela. Tenho uma doente atração pelos perdedores.

Por isso sou apaixonado pela literatura de Charles Bukowski (1920-1994), escritor americano considerado o grande profeta dos perdedores e mazelados deste mundo sem sentido. Bukowski revela e esmiuça o anti-sonho; um mundo de marginais, viciados, bêbados e prostitutas, dos quais só não se pode dizer que estão na sarjeta porque sempre decaem um pouco mais.

Assim como na história do filme "A Casa de Alice" e minha própria vida, Bukowski descreve as pessoas tal qual na vida real, retratadas de forma triste, divertida, escatológica e universal, em toda sua vulgaridade e realidade.

A realidade da rotina é chocante ilustre leitor! Porque é bem certo que nosso lar (casa) é, de forma geral, o lugar onde as pessoas (família) conseguem extrair (como tirar pus de uma inflamação) o que há de pior em nosso caráter. Todos os meus e os seus viciozinhos e segredinhos mais insanos não são segredos para quem convive comigo e com você à mais de 20 anos. Basta um pequeno vacilo, um desentendimentozinho à toa, e você vai ter a desgraçada experiência de ver e ouvir, impotente, seus segredos e mazelas serem vomitadas sumariamente na sala de sua casa diante de todos. É de fato, algo animalesco! Acreditem!

É chocante amigos! Comovente e chocante!

Então pergunto: Há esperança!?

Muito bem ilustre leitor, minha porta agora está escancarada para você! Pode entrar! E fique à vontade!

Ou não!

"Percebi ainda outra coisa debaixo do sol:
Os velozes nem sempre vencem a corrida;
os fortes nem sempre triunfam na guerra;
os sábios nem sempre têm comida;
os prudentes nem sempre são ricos;
os instruídos nem sempre têm prestígio;
pois o tempo e o acaso afetam a todos."
ECLESIASTES 9:11

George Facundo